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A voz rara de Lula Pena

Depois de dois álbuns magníficos (Phados, em 1998, e Troubadour, em 2010) a cantora e compositora Lula Pena (Lisboa, n. 1974), uma das mais interessantes e enigmáticas vozes do panorama musical português, regressou em 2017 ao seu singularíssimo universo musical para editar Archivo Pittoresco, terceiro álbum de originais que cruza a influência de múltiplas geografias.

 

Interessada na natureza do processo criativo e inspirando-se na atitude dos pintores oitocentistas que abandonavam o espaço privado do seu atelier para descobrirem a realidade exterior proporcionada pelo mundo das grandes cidades e das paisagens naturais, Lula Pena, na sua forma inconfundível, criou um disco cantado em português, grego, francês, castelhano e inglês, miscigenando o fado, a bossa-nova, a canção popular francesa e a morna cabo-verdiana.

 

 

O single de Archivo Pittoresco intitula-se Pes mou mia lexi («Diga-me uma palavra»), tema original do compositor helénico Manos Hatzidakis e interpretada de maneira fabulosa pelo timbre inesquecível de Lula Pena que, assim, homenageia a língua e o povo gregos, fundadores da identidade ocidental e recentemente sujeitos a um violento programa de ajustamento financeiro.

 

Fundida com a sua guitarra e a sua liberdade irrenunciáveis, eterna errante da arte musical e sibila das profundidades da sombra, a artista portuguesa reinventa o seu destino oferecendo uma renovada roupagem poética e lírica à língua portuguesa. Das 13 faixas que compõem este Archivo Pittoresco, escolhemos «Deus é grande» (cantado em inglês e em português com sotaque brasileiro) que exemplifica plenamente as sublimes qualidades melódicas de Lula Pena.   

 

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