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Ao contrário do que pretendia Amália Rodrigues, Lisboa está cada vez mais francesa. E japonesa. E espanhola. E de todo o mundo.

(Imagem: Reprodução Sic Noticias)

 

Há uns anos Lisboa estava a ficar vazia, despojada de gente, sobretudo de jovens. Houve uma mudança radical de políticas e hoje, felizmente, isso já não acontece. Muito pelo contrário, a cidade está repovoada, respira saúde e movimento em todas as suas principais artérias e é hoje uma das capitais do mundo de referência em termos turísticos, acumulando prémios e distinções um pouco por todo o lado, mas ainda assim, nem tudo são rosas na vida dos lisboetas.

Como tudo na vida tem um reverso da medalha e a crescente procura da cidade para fins turísticos, veio resolver o problema inicial, mas trouxe outros problemas, até então desconhecidos dos habitantes da capital portuguesa, sendo o primeiro deles o preço de lá residir.

Segundo um estudo da consultora Prime Yield o preço das habitações na cidade aumentou 4,4% nos últimos anos, tendo agora um valor médio de 1.268 euros por metro quadrado. Apesar disso, o nível da procura de casas para compra e arrendamento mantém-se estável e até crescente, embora quem as procura tenha um perfil significativamente diferente do que tinha há uns anos, e esse é o outro problema.

Com o interesse renovado que a cidade ganhou fora de portas e com o custo das habitações a subir de forma a que se torna inacessível para a mais comum das bolsas, grande parte da procura de casas em Lisboa hoje é feita por empresários e fundos de investimento, que querem investir no mercado imobiliário, para transformarem as habitações em hostels e em apartamentos para arrendar ou simplesmente remodelar e vender.

Nas zonas limítrofes da cidade não é tão gravoso, mas no centro e nos bairros históricos a situação está a ganhar níveis preocupantes. Os moradores relatam que estão a ser pressionados para vender as suas casas, falam de propostas de compra agressivas e insistentes por parte de agências. Algumas de forma diária. Há quem se queixe de que os bairros estão a ficar descaracterizados e despovoados de locais e o comércio local a ser substituído por lojas que se fazem passar por “muito típicas” ou lojas de souvernirs exclusivamente destinadas a turistas, o que causa grande transtorno e diminui muito a qualidade de vida a quem reside na cidade durante todo o ano.

Luís Paisana, Presidente da Associação de Moradores do Bairro Alto, diz que, para além disto, também ao nível do ruído, da segurança, mobilidade, estacionamento, higiene e salubridade urbana a capital vem sofrendo com as alterações da sua moldura humana.

A questão não se prevê fácil de resolver, uma vez que o turismo é uma das principais fontes de receita da autarquia, que recentemente introduziu uma taxa sobre dormidas de turistas, aproveitando-se do facto de ter sido a cidade europeia que no ano passado teve um maior crescimento a nível turístico, cerca de 15,4% face ao ano anterior, num total de 11,53 milhões de dormidas, segundo dados da Associação de Turismo de Lisboa.

O Dr. Fernando Medina, atual Presidente da Câmara, defende que o município só tem beneficiado com o recente boom de visitas de turistas e diz que a tendência é para manter e até subir se for possível.

Não será fácil esta nova Lisboa menina e moça cumprir o pedido de Amália Rodrigues e ser menos francesa. Ou Japonesa. Ou Inglesa. Ou Espanhola. Ou do mundo.

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