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Brasil, o país do impeachment

Leya

 

O termo Impeachment e todas as suas variantes mais ou menos eruditas (de “Fora Dilma” a “afastamento de Cunha”) tem de forma persistente e cada vez maior povoado os noticiários, redes sociais e as ruas do Brasil.

 

Superficialmente pode parecer algo natural num país que sofre problemas internos sérios, com uma presidente impopular e uma oposição cada vez mais forte e organizada.

 

Mas o que há de pitoresco e excêntrico nessa matéria é que não estamos falando da insatisfação popular contra um(a) governante em especial e a tentativa de o(a) depor, mas sim de um caos generalizado sem precedentes, de dezenas de pedidos e impeachment e afastamentos em geral, contra diversos membros do Executivo, aliados ou não.

 

Apenas para relembrar algumas manchetes recentes:

 

“STF ordena análise de impeachment de Temer e Cunha promete resistir.”

 

“Eduardo Cunha declara que aceitou a abertura do processo de impeachment contra Dilma.”

 

“OAB pede afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara.”

 

“O MBL (Movimento Brasil Livre) entrará com um pedido de abertura de impeachment contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello.”

 

“Cunha arquiva pedido de abertura de impeachment contra Temer.”

 

Se os políticos são um câncer do país, as tentativas generalizadas de impeachment parecem ser a metástase. Digo metástase e não antídoto porque a maior parte deles (os pedidos) não parte da sociedade civil e seu coletivo genuíno, e sim de movimentos lobistas com interesses pouco comunitários.

 

Não é objetivo desse artigo analisar os pedidos de afastamento e seus desdobramentos, mas sim o seu significado no Brasil de hoje.

 

Em jogo está a debandada de ministros, presidente da república, vice-presidente, presidente da câmara dos deputados e outros cargos de menos visibilidade.

 

Há duas formas de se ler esse cenário. Na primeira, o Brasil cansou de tanta incompetência e corrupção e está menos condescendente (ou mais consciente) em relação a seus representantes, expulsando os que não lhe representam ou que comprovadamente cometem o ilícito.

 

Mas há também um outro ângulo, que não necessariamente exclui o anterior, mas que expõe uma agenda paralela ao interesse da nação numa magnitude difícil de achar mesmo em um seriado do Netflix: os políticos, seus lobistas, patrocinadores, e todo o ecossistema econômico-financeiro que os mantém, perderam a tradicional discrição. A mesa de pôquer ficou à vista e ao invés de esconderem o jogo, aumentaram as apostas. Estão todos pagando para ver, e enquanto mostram o que tem em mãos tentam alterar as cartas que já estão na mesa, e se possível as lentes do óculos do crupiê.

 

O pseudo cumprimento da tão celebrada democracia (sem ironias), e o respeito à Constituição na prática servem apenas de chancela para tornar legal uma arena de maquiavelismo e competição por quem enche mais potes de ouro em paraísos fiscais.

 

Sim, a sociedade brasileira ganha uma chance de mudar a sua história para melhor criando um novo marco na intolerância à corrupção. Mas ganha de brinde um ambiente político desinibido para qualquer atrocidade, incapaz de perceber que essa busca a qualquer preço do interesse de uns poucos mantém parada toda uma nação.

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