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Conheça o criador dos guardanapos mais poéticos do Brasil

(Imagem: Leo Aversa)

Antônio nasceu em 2012 e está transformando o cenário da poesia no Brasil. Fruto da imaginação de um publicitário enquanto bebia um chope após a jornada de trabalho, em pouquíssimo tempo o romântico que brinca com as palavras com maestria viralizou e se transformou em um fenômeno das redes sociais.

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(Imagem: Eu me Chamo Antônio)

Em entrevista exclusiva à Conexão Lusófona, Pedro Gabriel contou como a rotina de fim de expediente conquistou mais de 1,5 milhão de seguidores (são mais de 915 mil no Facebook e 593 mil no Instagram).

– Eu tinha esquecido o meu caderninho de anotações. A única plataforma que eu tinha para escrever era a pilha de guardanapos que estava no balcão. Comecei a rabiscar algumas ideias e acabei gostando do resultado. Fotografei e guardei o guardanapo. Depois de um tempo, percebi que eu tinha bastante material guardado e decidi criar uma página na internet para registrar todas as minhas artes até então. Eu só fui para o ambiente virtual porque tive medo que os guardanapos amarelassem ou rasgassem, por se tratar de uma plataforma tão frágil. Sem esperar, muitas pessoas passaram a me acompanhar, compartilhar, comentar e divulgar a minha poesia desenhada. Fui um susto (um bom susto!): a página estava crescendo de forma absurda. Em menos de três meses, eu já tinha quase 80 mil seguidores – explica, revelando que ficou surpreso com a velocidade do crescimento da repercussão nas redes sociais.

(Imagem: Eu me Chamo Antônio)
(Imagem: Eu me Chamo Antônio)

Com um estilo suavemente nostálgico, a página Eu me chamo Antônio aposta em poemas ilustrados e em tecidos, texturas e fotografias para dar a atmosfera das imagens compartilhadas. Foi neste contexto das redes sociais, onde é tudo tão efêmero e todos sempre têm algo a dizer e comentar, que Antônio acabou por se transformar numa forma de dizer ao mundo muito do que a timidez o impedia de revelar.

– Eu criei o Antônio para quebrar minha timidez e conseguir dialogar com os outros. Um escritor não é um criador. Ele é simplesmente um observador de si mesmo. Escrever é encaixar (ou tentar encaixar) a grandeza do nosso mundo interior com a imensidão do mundo exterior – explica.

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(Imagem: Eu me Chamo Antônio)

O fato de o canal ter mais seguidores do que grande parte das páginas de artistas renomados da cultura brasileira mostra a força da literatura de qualidade adaptada ao público atual. O grande diferencial dos versos “antonianos” é que, além de provar que a literatura não precisa ser maçante para ser profunda, estão onde estão as pessoas: nas redes sociais.

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(Imagem: Eu me Chamo Antônio)

E, se é nas redes sociais que hoje se comenta a vida cotidiana e se consome notícias, nada mais natural que sejam elas o principal canal de propagação da cultura contemporânea.

– Eu costumo dizer que “caí de paraquedas” no mercado editorial. Fiz o caminho inverso: a editora me procurou depois de eu já ter um conteúdo consistente nas minhas redes sociais. Nem nos meus sonhos mais otimistas eu teria pensado que uma grande editora como a Intrínseca me procuraria ou apostaria em transformar aquele universo online que eu havia criado em um objeto físico, palpável – revela, comentando que aos seus olhos, este é um processo natural do nosso tempo.

– “O artista tem que ir onde o povo está”, já dizia a canção Bailes da Vida, do Milton Nascimento. O povo hoje está também na internet, nas redes sociais. É natural que surjam cada vez mais escritores, poetas ou artistas por essa plataforma.

(Imagem: Eu me Chamo Antônio)
(Imagem: Eu me Chamo Antônio)

Neste contexto, o Twitter, o Facebook, o Instagram e outras plataformas similares funcionam como uma grande praça pública para os poetas da nova geração. Mas uma grande vitrine não invalida a máxima que afirma que conteúdo de qualidade é sempre o melhor caminho.

– É importante destacar que não existe literatura de internet. Internet não é um gênero, é uma plataforma. Literatura é literatura e pronto. A internet é só um caminho ou uma vitrine para chegar com menos obstáculos aos seus leitores. Se não fosse a internet provavelmente não teria publicado meu livro tão cedo. Mas, por outro lado, se eu não tivesse feito tanta coisa fora da internet, eu não teria conteúdo para postar e ser visto. Então, mais uma vez: valorize o seu conteúdo. Se ele for bom, ele será interessante em qualquer plataforma – recomenda.

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Sobre o autor

Quem conhece a desenvoltura de Pedro Gabriel com as palavras não imagina que o publicitário só foi se familiarizar com o português na adolescência. Filho de pai suíço e mãe brasileira, o autor nasceu em N´Djamena, capital do Chade, foi alfabetizado em francês e só aos 12 anos chegou ao Brasil. A aproximação tardia com a língua portuguesa exigiu um esforço extra de observação da sonoridade e da grafia das palavras, o que alimentou o seu talento, sempre inspirado pela riqueza da literatura em português:

– Eu gosto dos poetas que conseguem resumir a complexidade do mundo em um verso aparentemente simples, como Arnaldo Antunes, Paulo Leminski e Mario Quintana. Mas os dois autores que vivem na minha mesa de cabeceira são Drummond e Manoel de Barros. Eles escreveram poemas infinitos. Dá para ler mil vezes cada um e ter mil e uma novas sensações!

Três anos, dois livros e mais de 2 mil guardanapos depois da primeira publicação no Tumblr, o cenário do ritual de criação das pequenas obras literárias segue o mesmo:

– Até hoje só consigo criar os guardanapos no mesmo bar. Chama-se Café Lamas, um tradicional restaurante carioca. Até tentei criar alguma coisa em casa, mas não saiu com a mesma verdade. Entende? Tanto que nem publiquei.

Já a sua poesia, como é natural, mudou:

– Amadureci muito com os meus dois primeiros livros. No primeiro, os versos tinham uma ligação muito forte com o ambiente de botequim. O tom do livro é mais uma linguagem de bar, com trocadilhos e sentimentos mais confusos. No Segundo, o personagem está mais lírico, mais corajoso. Se for para resumir em uma frase a fase de transição entre os dois livros, seria essa: Antônio saiu da boemia e entrou nos sonhos.

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