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É hora de aposentar os Heróis da Resistência

Leya

 

La cosa no andaba bien” como diz Kevin Johansen em uma de suas belas canções. Vou emprestar a frase para inseri-la no cenário de uma cidade predominantemente fabril que nasceu no século XX e teve seus anos de glória na segunda metade daquele centenário. Uma cidade que fez nome e produziu calçado infantil para milhares de pés espalhados pelo mundo. Produziu riqueza, abastou alguns e cresceu exponencialmente em sua região, tornou-se referência.

 

Mas nos últimos tempos alguma coisa acometeu a opulência dessa economia local. O fluxo de negócios diminuiu e parece continuar diminuindo. Grandes indústrias encontram grandes dificuldades de manter suas atividades no ritmo necessário. Os trabalhadores já não têm o mesmo entusiasmo. A situação atual do país não ajuda, os tributos sufocam e a concorrência mundial tem larga vantagem logística, produtiva e de custos. Um momento realmente complicado para um início de século onde tudo muda rapidamente.

 

Tenta-se tudo para combater a situação, cursos, palestras, seminários, consultorias, gurus corporativos, sistemas inovadores de gestão… Dedica-se grande energia junto aos poderes públicos para defender os interesses. Todos os serviços de fomento ao desenvolvimento industrial e instituições técnicas são acionados para garantir a preparação e qualificação do contingente de trabalhadores. Tudo é feito para que todos os pontos estratégicos sejam meticulosamente ocupados. O esforço não é pequeno.

 

O problema é que todo esse esforço parece não estar surtindo o resultado desejado. Talvez tenham se esquecido de uma coisa bem simples: mudar a mentalidade. Se isso não acontecer, nada terá sentido nessa nova era. E mudar a mentalidade não significa apenas utilizar os novos recursos tecnológicos, significa compreender os efeitos que eles podem promover nas mentes e no comportamento das pessoas.

 

As respostas não são mais as mesmas. A raiz para mudanças significativas está na desconstrução daquela mentalidade que ainda impera na cabeça da maioria dos líderes locais. Atitudes patriarcais estão ficando fora de moda. Coagir, manipular, mascarar informações, ocultar fatos ou mentir não fazem mais sentido num mundo onde a informação chega aos lugares mais remotos e improváveis. Para se ter ideia, ainda há práticas de mascarar informações sobre relatórios, pesquisas e outros dados públicos. Acreditar que hoje em dia isso resolverá alguma coisa chega ser uma ingenuidade pueril.

 

A realidade está bem aí, basta ter humildade (com “H” maiúsculo) para entender a situação. Parar de supor, trabalhar com informações reais, sérias. Tentar não ser arrogante e prepotente – nem grandes líderes do mundo o são. Não se apropriar de feitos ou ideias alheias, valorizá-las e promovê-las para incentivar seus autores. Mais que isso, respeitar e ouvir opiniões, admitir erros e seguir.

 

Questionamento e crítica são atitudes fundamentais na cultura de uma sociedade e contribuem para seu desenvolvimento. Transparência é a melhor saída.

 

Em todo momento surgem milhares de novas ideias e soluções nos mais diversos contextos. Há empresas que buscam colaboração aberta e indistintamente. Há chamadas, concursos e editais que promovem participações bem abrangentes buscando soluções adversas.

 

É fato também o crescimento da aprendizagem colaborativa – aquela em que os aprendizes ensinam seus saberes uns aos outros. É comum tutoriais gratuitos com soluções para determinado problema, desde uma complexa fórmula do Excel até um produto creative commons – é o caso do painel que atrai e mata o mosquito da dengue. E basta dar uma “googlada” para encontrar milhares de soluções sobre uma infinidade de coisas.

 

A negligência ou descrédito para esses fatos é um retrocesso.

 

Os números estão aí e essa resistência só impede a evolução. Num mundo capitalista intenso como o que vivemos, é até compreensível que se empregue o máximo de energia para garantir o que se tem, mas a má notícia é que dessa forma não dará certo. Pior que isso, vai arruinar ainda mais a estrutura.

 

Um dos efeitos da junção de riqueza financeira e pobreza intelectual é a estagnação do desenvolvimento e, somando isso a um determinado poder, os desdobramentos negativos podem ser graves. Conclui-se que o resultado disso não é bom nem para um lado nem para outro. Se a economia não desenvolve, a pólis definha. Se a pólis definha, a economia não cresce e a riqueza se vai.

 

O que fazer então? Nada, sejam só humanos, aposentem os trajes de heróis e somem forças sem capas ou máscaras. O resultado aparecerá.

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