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Paga um churrasco aí?

Leya

 

As eleições acabaram em alguns municípios brasileiros. Já foram eleitos os prefeitos e vereadores e meus sentimentos são de que há que passar muita água debaixo da ponte para desfrutarmos uma brisa de orgulho do nosso sistema político brasileiro, em todos os poderes, mas quero me ater aqui ao Legislativo, elo entre o cidadão e o Estado, local onde deve-se propor o destino do dinheiro público e fiscalizar sua aplicação.

 

A própria cultura interna das câmaras que distingue bancada do governo dos outros grupos já é um contrassenso, uma vez que todo parlamentar deveria ser imparcial em suas decisões, independente de quem seja o chefe do Executivo, se faz parte do seu grupo ou não. Pensar com coerência, ser crítico, analisar prós e contras de um projeto de lei, agir com racionalidade e confiança. Bem vemos que não é nada disso que acontece, e em todas esferas, nacional, estadual e municipal.

 

Antes mesmo da posse de um “nobre edil”, como se é intitulado, a parcialidade e circunstancialidade dominam como principal razão da decisão do voto.

 

Na primeira, o próprio eleitor vincula seu candidato do legislativo ao do executivo. Imagine só, se todos forem a favor ou subordinados ao chefe do Executivo, para que então a existência da câmara legislativa? E nem adianta dizer que não é assim, que é uma questão de afinidade e ideologia entre um grupo ou partido. Não é, você sabe disso.

 

Na segunda, predomina a falta de ética e a imoralidade do eleitor e do candidato. De um lado, a caça a quem pode pagar mais, seja uma conta vencida, um churrasco, uma promessa de emprego, uma consulta médica ou um medicamento, um favorzinho daqui, outro dali, etc. Do outro lado, a caça disfarçada de ovelha, espera para dar o bote e garantir mais um voto. E só para constar, a etimologia da palavra “candidato” deriva de cândido, que significa puro, sem manchas.

 

A moral e a ética realmente não terão espaço nesse círculo vicioso. Sabe aquela história “é assim que a coisa funciona, então vou aproveitar agora…”? Ambos os lados pensam assim e, assim sendo, fica difícil mudar o jogo.

 

O grave de tudo isso é que essa cultura é transferida e oficializada quando aquela aposta deu certo, quando o candidato que se votou ganha a disputa e se torna um fazedor oficial de favores, quando na verdade, deveria estar atento aos problemas gerais da comunidade. Também não adianta justificar isso alegando que assim faz porque o estado não faz. Esta, definitivamente, não é a função de um parlamentar.

 

Para que possamos ver águas mais limpas passar debaixo dessa ponte alguém tem que ceder, o eleitor ou o candidato. O ato de se aproveitar de uma determinada circunstância para obter benefícios próprios, não fazer o que deveria mesmo sabendo que é errado, agir de acordo com sua conveniência e interesse pessoal, são coisas que estão longe de ser consideradas boas. Acho que toda religião prega a distinção entre bom e ruim, bem e mal, e se a maioria das pessoas tem religião, porque as águas estão tão sujas?

 

Desconfiança do eleitor aumentou índice de abstenção nas eleições brasileiras

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