Conexão Lusófona

Artista plástico carioca transforma fachadas lisboetas com azulejos em papel

(Imagens: Fábio Carvalho)

A perda de azulejos, por roubo ou pela simples deterioração, é um dos maiores problemas dos prédios antigos de Lisboa. Para chamar atenção sobre o problema, o artista plástico brasileiro Fábio Carvalho optou por inovar, preenchendo as lacunas com azulejos em papel, com padrões exclusivos criados por ele.

 

A ideia surgiu em 2011, durante a sua primeira visita a Lisboa. Foi nesta viagem que o carioca deu início a uma coleção de fotos de fachadas e de pormenores de azulejaria em Portugal. Quatro anos (e algumas visitas a Portugal) mais tarde, a coleção já tem mais de 5 mil fotos, sendo uma parte significativa fotos de fachadas azulejares com lacunas, muitas vezes em péssimo estado.

– Isso me entristece demais, pois é a face explícita de dois problemas muito sérios: a falta de conservação dos imóveis e o roubo de azulejos para venda em feiras e antiquários, ambos problemas que também acontecem aqui no Brasil em todas as cidades que possuem fachadas azulejadas, como Rio de Janeiro, Salvador, Belém, São Luís – explicou o artista, em entrevista exclusiva à Conexão Lusófona.

 

 

A oportunidade para concretizar o projeto veio em fevereiro deste ano, durante uma residência artística de Fábio em Lisboa. Reparando nas inúmeras fachadas com azulejos a menos, o artista reparou que havia ali uma oportunidade para fazer o que mais gosta: intervenções urbanas. Para o projeto APOSTO foram criados três padrões exclusivos de azulejo. Mas é só olhando de perto que se percebe: os padrões são formados por armas de fogo feitas de patchwork de renda, peça que integra a série “Delicado Desejo” do artista.

– Originalmente havia pensando em apenas um padrão, que criei a partir de um conceito muito comum na azulejaria portuguesa, no qual a partir de apenas uma mesma unidade, você chega a um desenho maior, combinando de 4 a 8 azulejos, apenas com a rotação dos azulejos.

Mas logo o artista se deparou com situações onde este padrão não se ajustaria, criando então os dois padrões seguintes.

(Imagem: Rodrigo Vila)

 

Os novos padrões foram impressos a laser em papel, e depois os azulejos de papel foram aplicados com cola de amido em fachadas de prédios lisboetas onde os azulejos originais já estavam em falta, por deterioração ou roubo.

Nascido no Rio de Janeiro, o artista plástico já tinha um “olho treinado” para a azulejaria – em 2009, participou de um projeto de arqueologia limpando e separando fragmentos de azulejos do século XIX pelo padrão decorativo, oriundos de escavações no Rio de Janeiro.

As primeiras intervenções ocorreram de forma tímida e anônima, durante a madrugada. Mais tarde, Fábio passou a aplicar os azulejos durante o dia. A intervenção ocorreu entre 12 de fevereiro e 18 de março. Nestes 35 dias, Fábio espalhou pouco mais de 300 azulejos por 45 pontos da cidade, “remendando” as paredes de azulejos.

A maioria das intervenções aconteceu em Penha de França e Anjos, mas é possível encontrar os azulejos de Fábio também nas regiões da Graça, Bairro Alto, Baixa, São Cristóvão e Madalena.

O mapa da mina: veja abaixo onde estão localizadas as intervenções de APOSTO

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