Conexão Lusófona

À conversa com Soraia Simões

É verão e sabemos como o sol brilha em Lisboa, portanto nada melhor que uma esplanada no largo da residências do intendente para marcar uma conversa com a Soraia Simões. Ela é a mentora do espaço online Mural Sonoro que é o resultado do seu interesse pelo estudo das práticas musicais em contexto migratório na cidade de Lisboa.

Quando questionada do porquê de ter desenvolvido este projecto, ela diz ter reparado que, apesar da cidade migratória e mestiça que é Lisboa, os músicos que aqui se encontram muitas vezes não se conhecem entre si e as particularidades culturais e musicais dos seus países de origem. Este aspecto acaba por ser, ainda segundo a própria, um ponto a desfavor do músico mas também da própria sociedade em que esta multiculturalidade se desenrola.

Embora perceba e concorde em muitos aspectos com estas observações, não pude deixar de perguntar à Soraia como ela acredita que se possa inverter esta tendência e, de que forma o Mural Sonoro contribui para que os músicos e a sociedade lisboeta se conheçam na sua diversidade sem se anularem entre si só para que haja uma comunicação mais fluída em termos musicais. A resposta tem muito a ver com a forma como o próprio projecto do blogue se desenrola, diz a Soraia, que passa pela recolha de entrevistas com diferentes músicos que actuam no panorama musical lisboeta e passo a citá-la “A recolha de entrevista é um contributo importantíssimo para a evolução das músicas e da sociedade. As ‘comunidades’ carregam histórias expressivas, individuais, que não se separam muitas vezes do contexto em que crescem e se desenvolvem, é de extrema  relevância o diálogo: inclusivo, permissivo (no espaço ‘comunitário’ abrangente em que se dão a conhecer). A importância de recolher e escutar esses relatos, entender essas ‘pertenças’ e essas ‘partilhas’ enriquece não só o entendimento das várias práticas e actividades musicais, como opera um aceleramento da integração do Músico num meio comum em que todos o possam ouvir, perceber.”

A esta altura da entrevista já sinto vontade de me envolver no projecto, trocar ideias, sugerir músicos e actividades. Daí que pergunto à minha entrevistada qual a ambição com o projecto, o quão alto é o sonho e a vontade de estudar, de conhecer e de dar a conhecer este universo musical tão particular e tão rico. Para a Soraia passa, inevitavelmente, por alargar o âmbito do blogue que deverá acontecer em Outubro quando se tornar numa plataforma em linha com secções como organologia (dando espaço aos construtores e artesãos nacionais), ensaios (com textos e ensaios reflexivos de diferentes autores), práticas musicais e coreográficas, etc.

Porém, também é importante extrapolar o mundo virtual, o que já vem acontecendo com o envolvimento do Mural Sonoro em outros projectos. Neste momento, a Soraia está a gravar um documentário de treze episódios com intervenientes de países como a Guiné, o Brasil, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Angola, com a produção da Short Film Shop e que, neste momento, já tem um canal temático interessado. Para além disso, durante o verão, o Mural sonoro estabeleceu uma parceria com o Festival Escrita na Paisagem em Évora com um projecto (África Move) que levou músicos como os Cacique ’97, Selma Uamusse, Bilan ou ainda os irmãos Makossa a esta cidade para darem a conhecer o seu trabalho num espaço em que nem sempre estas práticas musicais no contexto da diáspora chegam, ou se chegam, não com a frequência e o enquadramento desejados.

Assim sendo fica aqui o convite para visitar e explorar o blogue http://muralsonoro.tumblr.com/ e onde podem saber dos projectos que a ele estão associados.

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