Conexão Lusófona

Brasileira conta como é ser doula em Portugal

ser doula em Portugal

Há sete anos em Portugal, Romana mudou sua vida através da profissão de doula. (Imagem: Reprodução Arquivo Pessoal)

De acordo com a Rede Portuguesa de Doulas, o papel desta profissão é acompanhar a mulher durante a sua gestação e depois dela, assegurando suas necessidades básicas. Ser doula é conhecer e compreender a fisiologia do parto, respeitar as decisões dos futuros pais e estar ali, acima de tudo, para apoio emocional.

 

É um trabalho antigo, aliás, é considerado, inclusive, milenar. O termo é grego e quer literalmente dizer mulher que cuida de outras mulheres.

 

A aproximação entre as mulheres durante a maternidade é essencial para o bom desenvolvimento da criança e da saúde mental dos pais. Diversas evidências científicas revelam isso.

 

Atualmente, a profissão está vivendo um retorno e reacendendo outros debates como a humanização do parto. Além disso, tem sido uma excelente alternativa para mães que buscam mudar de carreira e investir em uma nova trajetória profissional.

 

Este é o caso da brasileira Romana Naruna Brito Vieira, 29 anos, que responde para a Conexão Lusófona uma série de questões exclusivas. Ela está em Portugal há sete anos e é mãe de duas meninas pequenas. Há alguns meses ela terminou sua formação como doula e vem atuando no Porto, em Portugal. Ela ainda coordena a página A Puérpera, no Facebook, onde partilha a sua experiência com a comunidade virtual.

Como é ser doula em Portugal?

Romana usa a sua experiência pessoal como mãe para compreender outras mulheres. (Imagem: Reprodução Arquivo Pessoal/João Camilo)

Conexão Lusófona: Como você se tornou uma doula em Portugal? Qual foi o processo? Encontrou dificuldades por ser estrangeira?

 

Romana: Foi bastante simples, na verdade. Eu me inscrevi na formação oferecida pela Rede Portuguesa de Doulas na altura. Foram três finais de semanas intensos. Existem outras entidades que oferecem o curso também, mas esse da Rede me chamou a atenção por focar no trabalho emocional.

 

Não encontrei qualquer dificuldade por ser estrangeira. Acho que nunca me senti tão abraçada neste país quanto durante o meu processo para tornar-me doula. Sinto que fui acolhida por inteiro e não como a Naruna, a brasileira.

 

Conexão Lusófona: O que lhe inspirou a ser doula?

 

Romana: A maternidade foi decisiva nesse meu processo. Ter filhos longe do meu país, das minhas referências, fez-me ver que a rede de apoio tem um papel importante na caminhada das mulheres-mães. A jornada pode ser muito solitária ou de pura identificação quando temos com quem contar.

 

Meus primeiros tempos como mãe foram muito atribulados e marcados por um isolamento mesmo. Só há bem pouco tempo é que descobri aonde posso me apoiar e isso faz toda a diferença.

Fui vendo que, apesar do fator imigração ter um peso na minha história, não era só comigo. A dúvida, o receio, o isolamento, a não identificação com certos estereótipos da maternidade, tudo isso era mais comum do que eu pensava.

 

Então, senti que tinha um papel junto dessas mães e famílias que nascem. Senti que podia apoiá-las e oferecê-las o suporte que eu não tive nessa transição.

 

Conexão Lusófona: Qual a diferença entre uma doula pré e uma pós-parto?

 

Romana: Uma doula de parto acompanha mulheres e famílias mais na fase da gestação e ajuda na preparação para o parto e para a maternidade em si. Ela também pode atuar no pós-parto, mas, normalmente o foco do trabalho é mais naquele evento e na dinâmica logo a seguir.

 

A doula de pós-parto, por sua vez, é focada nessa realidade já com o bebê fora da barriga, na adaptação, no processo de descoberta das novas identidade e dinâmicas. Pode trabalhar também com a família antes do parto, ajudando a preparar o plano de pós-parto, por exemplo. São funções bem complementares, na verdade.

 

Conexão Lusófona: Por que o trabalho da doula é extremamente importante para a saúde física e mental da mulher?

 

Romana: Eu acho que porque a mulher, especialmente nesse momento, precisa de apoio. E é isso que a doula é, um apoio, com formação, com informação baseada em evidências científicas, com escuta atenta.

 

É muito mais fácil gestar, parir, recuperar e maternar com esse suporte.  Ela sente-se mais segura, mais confiante, mais protegia e isso claramente impacta no bem-estar dela, da família e na relação que constroem com o bebê. O papel da doula é bem antigo, tem séculos, e perdeu-se por uns tempos. Agora está a ser redescoberto.

 

Conexão Lusófona: Como pode uma mulher se tornar doula aqui? O que ela precisa para iniciar o processo? É preciso, por exemplo, já ter tido filhos?

 

Romana: Uma mulher ou um homem! Porque os homens também podem ser Doulas. Na Rede há um, por exemplo.

 

Dizem que doula não é uma carreira que se escolhe: você sente o chamado. Posso dizer que eu senti, especificamente para trabalhar com o pós-parto. Acho que precisa ter paixão por todo o universo em que a doula está imersa. Parto, gravidez, o feminino. E não precisa ter tido filhos para sentir que pertence a este “mundo”.

 

Conexão Lusófona: Como é usar a internet para desmistificar a profissão de doula?

 

Romana: Acho que esse é um daqueles casos em que é bom estar na Internet. O feedback tem sido muito positivo até agora. Minha alegria é receber mensagens de mulheres que nunca vi a agradecerem-me por fazer com que elas se sintam normais. Uma conversa offline é sempre mais prazerosa, permite mais troca, mas o online também dá essa possibilidade de chegar mais longe.

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