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O Fado – história de uma obra de arte / story of a paiting

Nascido a 28 de abril de 1855, José Malhoa foi um dos grandes pintores portugueses. Foi pioneiro do Naturalismo e a sua obra se destacou por estar mais próxima da corrente impressionista em Portugal. Mas não entrando em mais pormenores biográficos, vamos apenas realçar um momento certamente marcante para a sua vida artística e pessoal. Tudo à volta de um quadro – O Fado – que retrata, de forma brilhante, a alma deste género musical, um símbolo da cultura portuguesa.
São conhecidas duas versões de O Fado de José Malhoa. A primeira é de 1909 e a outra de 1910. Muito provavelmente da ideia até à conceção, José Malhoa passou por alguns momentos antes até chegar à obra que conhecemos. A história do quadro começou quando José Malhoa sentiu a vontade de retratar O Fado que começou a ter algum sucesso entre burgueses, intelectuais e aristocratas, apesar de ter estado, nessa época, muito associada à marginalidade, aos bairros populares e à população mais empobrecida.
O pintor primeiro contratou modelos profissionais para os primeiros esboços, mas não ficou satisfeito. Queria mesmo captar a verdadeira essência do fado e só iria consegui-lo com modelos reais. Vagueou por muito tempo pelos bairros de Alfama, Bairro Alto até encontrar o que queria no bairro da Mouraria onde, hoje em dia, orgulhosamente os seus moradores defendem ser o berço deste género musical. José Malhoa conheceu, desta forma, os dois modelos retratados no quadro. Ele era Amâncio Augusto Esteves, rufia, fadista e tocador de guitarra e ela era Adelaide da Facada, assim chamada, pois tinha uma grande cicatriz no lado esquerdo do rosto. Era, durante o dia, vendedora de cautelas e à noite, prostituta. Durante mais de um mês o pintor deslocou-se à casa de Adelaide que se situava na Rua do Capelão para retratar mais fielmente possível o ambiente que observava. As pessoas do bairro primeiro, desconfiadas habituaram-se depois à presença do ‘’pintor fino’, como era assim chamado. Por diversas vezes, Malhoa teve de explicar à polícia sobre as razões da sua presença no bairro e passou a ir muitas vezes à prisão para ir buscar os seus dois modelos e poder continuar a fazer o seu trabalho. O ‘’pintor fino’’ teve que usar muita da sua paciência e capacidade de argumentação para estar de boas relações com Amâncio. A primeira ideia de Malhoa seria de pintar Adelaide despida, ou quase,  causando alguns ciúmes e ameaças por parte do marialva.
Apesar de todas estas situações caricatas, Malhoa completou a sua obra e mostrou-a não só às elites para saber da sua opinião, como também aos habitantes do bairro. A pintura foi muito mal recebida no início pela crítica, por retratar o lado menor do fado, a marginalidade. A obra, porém, passou a ser reconhecida no estrangeiro. Viajou por Buenos Aires, onde ganhou uma medalha de ouro, Paris, Liverpool e São Francisco.
Em 1917 a versão de 1910 foi adquirida pela Câmara Municipal de Lisboa, tendo sido colocada no salão nobre dos Paços do Concelho onde permaneceu até ser integrado na exposição permanente do Museu da Cidade. Hoje em dia encontramo-la no Museu do Fado, empréstimo do Museu de Lisboa. A versão de 1909 encontra-se numa coleção privada.
Estas e outras histórias poderão ouvir durante o percurso do nosso Giro LX. Mais informação aqui.
Born on 28th April 1855, José Malhoa is considered to be one of the greatest Portuguese painters. He was a pioneer in Portugal following the Naturalism movement and his work stood out for being closed to Impressionism. We’re not getting into more details on his biography, but we will only emphasize a moment, which certainly marked his own personal and artistic life. Everything goes around a painting called – O Fado – which brilliantly portrays the soul of this music style, a symbol of the Portuguese music.
There are two versions known of the painting O Fado by José Malhoa. One is from 1909, and another one from 1910. Most likely from the idea to its conception José Malhoa spent some moments before until finally reaching to the versions we know. The painting’s history began when José Malhoa felt the need to portray Fado music, which started to become a success among the bourgeois, intellectuals and aristocrats as it had been mostly associated to marginality and the poor neighbourhoods.
The painter first used professional models for the first sketches, but it wasn’t enough for him. They wanted to capture the true essence of fado and he could only do that by using real models. He wandered about for a long time through the neighbourhoods of Alfama, Bairro Alto until he found what he wanted in Mouraria, where today its residents defend proudly on being the cradle of Fado.
José Malhoa met the two models portrayed on the painting. He was Amâncio Augusto Esteves, bully, fado singer and guitar player and she was Adelaide da Facada (of the Knife), called that for having a scar on the left side of her face. During the day she sold lottery tickets and at night she was a prostitute. During a month the painter went several times to Adelaide’s home in Capelão street, to portray the closest environment he was watching. The people of the neighbourhood were first intrigued by his presence, but got used to it and started to call him the ‘’fancy painter’’. Many times, Malhoa had to explain to the police his presence in the neighbourhood and had to go to the prison regularly in order to release his two models to continue to do his work. The ‘’fancy painter’’ had to use a lot of his patience and diplomacy to get on well with Amâncio. His first plan was to pain Adeliade naked, or almost, causing jealousy and threats by the bully.
In spite of all these peculiar situations, Malhoa managed to complete his work and show it to the upper class but also to the Mouraria’s residents in search of their opinion. The painting got at first bad reviews, defending that he was portraying the minor side of Fado, related to marginality. However, it was critically acclaimed abroad and travelled to Buenos Aires, where it got a golden medal, Paris, Liverpool and San Francisco.
In 1917 the painting version of 1910 was bought by the city council of Lisbon, and it was placed at the noble saloon in Paços do Concelho building until it was moved permanently to the City Museum. Today the museum has lent the painting to the Fado Museum. The 1909 version is in a private collection.
This and other stories, you can listen during the walking tour Giro LX. More information here.

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