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BaianaSystem: a banda sensação do Brasil

Basta uma pesquisa rápida para sermos assolados pelo fenómeno musical BaianaSystem. “Insanos”, “sensacionais”, “loucos” ou “maravilhosos” são apenas alguns dos comentários dos milhares de seguidores deste grupo, publicados no facebook oficial. Há até quem afirme — e em grande escala — que são “a melhor banda do Brasil”. Tudo começou em 2009 e, passados dez anos de batidas eletrónicas, com pitadas de reggaeafrobeat e ijexáficam os vestígios de um fenómeno musical para analisar.

 

BaianaSystem foi formado em Salvador da Bahia. Deste berço cultural ficou bem presente a reconhecível guitarra baiana, combinada com os sons jamaicanos e africanos. Talvez seja por este motivo que a sonoridade do trio brasileiro é tão singular — mas, ao mesmo tempo, familiar. Segundo os membros do grupo (Russo Passapusso, vocalista; Roberto Barreto, guitarrista; e SekoBass, baixista), a música produzida é como se estivesse a ser elaborada na rua, com leveza e instinto musical. Depois, por cima da batida inicial, são sobrepostos outros arranjos melódicos e o casamento é consagrado.

 

O nome do projeto nasceu da conjugação de “guitarra baiana” com “sound system” — os tais sistemas de som criados e popularizados na Jamaica. O resto conseguiu-se com muito trabalho e tentativas à mistura. Apelidado de “fenómeno”, o grupo BaianaSystem tem arrebatado corações devido aos elogiados espetáculos ao vivo. Além de projeções de imagens e ilustrações, que vão ao encontro da vasta cultura musical explorada e mesclada, as rimas poéticas e interventivas — como se fossem uma crónica social que denuncia — têm tocado fãs, seguidores e críticos musicais.

 

Aliado ao talento, o facto dos espetadores se reverem em muitas das letras produzidas, possivelmente, explique a força deste furacão artístico. Além disso, devido à representação das nuances socioculturais brasileiras, o grupo tem ceifado terreno no panorama musical contemporâneo.

 

A consolidação da jornada musical

 

Parte da popularidade do BaianaSystem é explicada no seu diálogo cosmopolita que, ao longo dos anos, foi reinventando as tradições populares do Brasil — como o sambareggae, o funk e o pagode — a partir de uma conexão com algumas estéticas globais — como o hip-hop, o dubstep e o dancehall. Através da conjugação destes estilos musicais, a música urbana baiana ganha uma nova roupagem na voz de Russo Passapusso, que se funde numa simbiose perfeita com a guitarra de Roberto Barreto. A isto tudo, soma-se o baixo energético de SekoBass e o espetáculo audiovisual de Filipe Cartaxo.

 

Espetáculo ao vivo do grupo BaianaSystem, em Fortaleza (Brasil) — Imagem: Baiana System (Facebook) 

 

O primeiro trabalho discográfico foi lançado em 2010. Este álbum, que tomou o nome da banda, contou com a contribuição de artistas como BNegão, Lucas Santtana, Roberto Mendes e Gerônimo. Dados os passos iniciais, a guitarra baiana tratou da consolidação pública. Este instrumento é considerado a “alma do carnaval brasileiro” e, uma vez que tem um protagonismo sonoro nos trabalhos musicais do BaianaSystem, os convites para eventos festivos começaram a surgir — principalmente durante a quadra carnavalesca de Salvador. Até hoje, ao leme do seu popular navio pirata, a banda é responsável por arrastar um mar de gente no carnaval.

 

Os espetáculos e as atuações em festivais foram crescendo, o território brasileiro foi explorado (quase de ponta a ponta), os seguidores multiplicaram-se e os segundo e terceiro álbuns surgem de rajada, em 2016 e 2017, após o lançamento de um EP (Extended Play) nas entrelinhas temporais. Os projetos Duas Cidades Outras Cidades (disco que conta com a colaboração de artistas convidados) não poderiam ter sido melhor recebidos, nacional e internacionalmente. O primeiro é composto pela faixa “Playsom”, que faz parte da trilha sonora do reconhecido jogo “Fifa (2016)”, da Eletronic Arts. Graças a este facto, as fronteiras internacionais foram transgredidas.

 

 

No passado dia 15 de fevereiro, a banda lançou o seu mais recente álbum: O futuro não demoraAs críticas já começaram a ser realizadas e não poderiam ser mais positivas — como havia acontecido no passado. Mas não podemos esquecer que grande parte da visibilidade mediática se deve ao facto do BaianaSystem ser considerado uma marca. As icónicas máscaras que o trio usa, assim como o público, tornaram-se num emblema. Este acessório — que representa uma espécie de elo simbólico entre o povo e o sistema (poder) —, aliado à versatilidade sonora e à mensagem social, é quase como uma bandeira artística, hasteada em representação da força brasileira.

 

As icónicas máscaras do BaianaSystem — Imagem: Baiana System (Facebook) 

De carreira consolidada e, de certa forma, estável, o grupo já acrescentou ao currículo musical inúmeros prémios e reconhecimentos públicos: Troféu APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte); o Prémio Multishow de Música Brasileira, como melhor grupo e melhor revelação; e o de Melhor Álbum (com Duas Cidades). A febre elogiosa atingiu até o célebre artista Caetano Veloso que definiu o grupo, num tweet, como “a nova força do carnaval”.

 

Para o futuro, continuam a prevalecer as promessas de reinvenção do repertório artístico-cultural brasileiro. Perseguindo este objetivo, o trio baiano continuará a navegar, a bordo de um navio pirata musical, pelas ondas da vanguarda.

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