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Especial Conexão Lusófona: o “Brasil que dá certo” no combate ao uso de agrotóxicos

(Imagem: Sandra Rodrigues)

No Brasil, maior mercado mundial de agrotóxicos desde 2009, diversos movimentos sociais e políticos vêm desenvolvendo trabalhos para reverter o processo de concentração fundiária, degradação ambiental e violência contra a saúde, especialmente dos povos tradicionais e indígenas da região amazônica.

A vitória de uma batalha importante no bojo desta luta está acontecendo no Tocantins, cujo território está à porta da floresta amazônica e abriga um milhão e meio de habitantes, entre eles, cerca de 10% são povos indígenas e comunidades quilombolas.

A capital do estado, Palmas, acaba de ganhar sua primeira feira de hortifrutigranjeiros agroecológicos permanente. Um trabalho que começou em 2007 pela Comissão da Produção Orgânica (CPORG) da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural (SEDER) e que agora se consolida com a participação de mais de uma dezena de pequenos agricultores.

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(Imagem: Sandra Rodrigues)

– Foi um trabalho de formiguinha. Quando começou, eu era a única pessoa envolvida e agora estou feliz e sinto que tudo foi muito gratificante – diz a engenheira agrícola da SEDER e responsável pela comissão, Amanda Oliveira Santos. A “formiguinha” tocantinense, entretanto, valeu-se do apoio da Comissão Nacional de Produção Orgânica do Ministério da Agricultura brasileiro, criada a partir da pressão da rede de movimentos pela agroecologia representada no Tocantins, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento Interestadual Para a Pequena Agricultura do Tocantins (APATO) e Movimento Interestadual das Quebradeiras do Coco Babaçu (MIQCB), mostrando o quanto o trabalho em rede é importante diante de injustiças socioambientais.

A Conexão Lusófona foi lá conferir.

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(Imagem: Sandra Rodrigues)

Duas estórias, dois caminhos, e a chegada a um só lugar. Raimunda Alves Batista, de 54 anos, é agricultora ecológica do Assentamento Mariana, no bairro de São João, na periferia de Palmas. Ela cultiva o fruto do murici, cajá, açaí, limão galego, milho crioulo, além da sua criação de galinhas e venda de ovos. Tudo sem nenhuma utilização de venenos dos apelidados por “defensivos” pela agricultura do latifúndio brasileiro.

Quando perguntada como chegou à assunção da cultura agroecológica ela responde:

– Eu não cheguei, sempre cuidei assim da minha família.

Ela conta que desde 2002 já praticava a agroecologia (mesmo sem saber que sua forma de cultivar tinha esse nome), mas sem o apoio de uma política pública era muito difícil competir com o mercado dos alimentos “envenenados”. Agora, certificada pela SEDER, Raimunda recebe regularmente o apoio técnico necessário principalmente para a venda de seus produtos para a sociedade de Palmas.

Já Valterlei Rodrigues da Silva, de 56 anos, precisou perder noites de sono estudando os fundamentos da agroecologia em Brasília, capital do Brasil. Ele era agricultor no Pará e ficou indignado quando viu companheiros ficarem doentes com a utilização de agrotóxicos. Foi quando resolveu migrar para o bairro de Taquari, onde conheceu o secretário estadual de infraestrutura do Tocantins, Alexandre Ubaldo, que o convidou para o curso em agroecologia que estava sendo ofertado no Distrito Federal.

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(Imagem: Sandra Rodrigues)

Ele diz que aprendeu muito e que hoje sabe afastar os insetos e a pragas da lavoura de hortaliças onde trabalha com o pequeno agricultor, Genivaldo de Sousa, usando apenas uma calda de sabão, ureia e pimenta malagueta; ou ainda melhorar a umidade do solo em períodos de estiagem com a mistura de gesso em pó e calcário. Vende alface, couve manteiga e outras hortaliças pelo mesmo preço das folhas obtidas pela agricultura mórbida que se autointitula, “tradicional”. E assim começa o longo caminho por esperança de uma população que habita uma região de exuberância natural, mas, que permanecia fadada a por o veneno à mesa.

Além do trabalho da nossa formiguinha, Amanda dos Santos, que promete a permanência da feira logo após termine a discussão de sua equipe para o anúncio definitivo do local a ser realizada no início do mês de julho, acaba de ser lançado o Dossiê Abrasco: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Trata-se de uma publicação séria e importante como ferramenta social para a mudança cultural absolutamente necessária à alimentação dos brasileiros.

O Dossiê é um trabalho da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, editado pela Expressão Popular e disponível para download, aqui, em formato pdf.

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