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Grasspoppers Inna Week

Uma vez por ano, o colectivo musical Grasspoppers reúne-se durante uma semana, fecha-se num estúdio caseiro em Lisboa e, com convidados de diversos países lusófonos, cria música pr’alma.

O núcleo do grupo é composto pelos irmãos luso-moçambicanos Milton e Marisa Gulli, e os convidados são de Angola, Cabo Verde, Moçambique, Portugal; as músicas usam o dub e o reggae como um canvas em que os diversos convidados, ora em rap ou reggae, ora em crioulo ou português ou calão angolano, pintam sobre ela. O resultado é simplesmente uma obra de arte sonora, com atitude e identidade, com imensa diversidade mas unida na sua criatividade. É uma obra de arte que consegue incorporar vários elementos das diferentes realidades sonoras dos seus países, mas une-os por cima da linha dum baixo e um ritmo dub contagiante.

Até aqui o colectivo já lançou dois álbums gratuitamente pela internet. Tratam-se do Dub Inna Week e do Lovers Rock Inna Week. Ofereceram as suas vozes cantores como a Selma Uamusse, Helder Faradai, Prince Wadada, Vinicius Magalhães, Daniel Cruz, e mais. Se o primeiro trabalho do colectivo, o Dub Inna Week, foi inspirado pelo seu amor ao dub, já o Lovers Rock Inna Week teve como inspiração o amor em si, bem como as músicas românticas dos grandes colossos do reggae de tempos idos, tais como Gregory Isaacs, Sugar Minnot, Anton Ellis, e outros.

A rotina para os dois álbums foi a mesma: o grupo fecha-se no estúdio caseiro do Milton e, entre copos de vinho, uísque, cervejas, fumaças, a troca livre de ideias e bastante inspiração, cria um dub lusófono puro e verdadeiro como nunca ouvimos. Uma lufada de sons frescos nos nossos tímpanos cansados de ouvir o mesmo lixo sonoro proveniente do chamado “music biz”.

Os dois álbums são dos melhores que ouvi nos últimos dois anos no universo da música lusófona. Elegi o Dub Inna Week como o quarto melhor álbum lusófono de 2010, e considero o Lovers Rock Inna Week como um dos três melhores de 2011. Oi­ço “Carta a Uma Cidade Anoitecida”, do Lovers Rock, pelo menos uma vez por semana, normalmente mais, e quando estava mesmo louco por ela, todos os dias. Já no Dub Inna Week, Folhas de Feijão Makonde é um dos destaques, bem como Tunda Já.

Enquanto que muitas vezes diz-se que a lusofonia não existe ou não funciona, por outro lado eu tiro meu chapéu, e levanto o volume dos meus headphones, para gente como os Grasspoppers, que conseguem provar, consistentemente, que a lusofonia é algo que se sente, acima de tudo, cultural e musicalmente. Ao serem fiéis à sua filosofia de música, conseguem ser campeões da lusofonia.

Faz um favor a ti próprio(a) e baixa já os álbuns dos manos.

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