Cultura

Conheça o filme brasileiro que desbancou a Marvel nas bilheterias

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Um filme brasileiro — mais especificamente do estado do Ceará, no nordeste do país — tem feito sucesso nos cinemas e desbancado grandes produções internacionais desde o seu lançamento, em finais de março de 2019. É o Cine Holliúdy 2: a Chibata Sideral, dirigido por Halder Gomes. Trata-se de uma comédia típica do Ceará — estado conhecido por ser o berço da comédia brasileira, com grandes nomes como Chico Anysio, Tom Cavalcante e Renato Aragão (Didi).

 

O filme aborda um exibidor de cinema cearense que decide resistir ao domínio das cassetes e televisões na década de 1980 e recrutar o elenco mais feio da região para produzir um filme de ficção científica. O resultado é de rir. O próprio nome da personagem principal — Francisgleydisson — já é uma chacota com as mesclas que originam nomes de crianças no país. Também o filme é todo falado com expressões e gírias típicas da região: o “cearencês”.

 

Cine Holliúdy 2 supera Capitã Marvel no estado do Ceará

O filme é um sucesso e, desde sua estreia, supera as visualizações de Capitã Marvel nas bilheterias do Ceará. Segundo a ComScore, o dia 25 de março foi o 5.º dia consecutivo de liderança nas buscas por filmes nos cinemas do estado, com vendas de 16 mil ingressos por dia. O número equivale a quase o dobro do de Capitã Marvel. O valor equivale a cerca de 50% da arrecadação de todo o estado do Ceará. O filme já ocupava o 4.º lugar no ranking geral dos filmes no Brasil, e isso porque ainda não estreou no sul ou sudeste do país.

 

Já no primeiro filme da trilogia — de 2013 —, os resultados foram semelhantes. O filme Cine Holliúdy (2013) desbancou grandes produções de Hollywood daquele ano, como The Smurfs 2, Wolverine 2: Imortal, O homem de aço e Círculo de Fogo. “Isto se deve à sensação de pertencimento, à identidade. Representamos heróis que não precisam se mascarar nem usar cuecas sobre as calças, são heróis do cotidiano, que estão ali para enfrentar as dificuldades do dia a dia”, afirma Halder Gomes.

 

O sucesso de público tem relação imediata com as piadas, que giram em torno da beleza das personagens, da forma de falar, do modo de agir — todos fora do padrão considerado convencional. As piadas passam pela forma jocosa com que o povo cearense retrata o próprio povo cearense. “O cearense sabe brincar de si, não tem o menor problema”, lembra Gomes. “No dia do Óscar, por exemplo, fizemos nas redes sociais o Prêmio Rosca, que era para as pessoas escolherem e marcarem o amigo mais feio e garantir um lugar na pré-estreia do nosso filme. A participação foi imensa”, conta.

 

Segundo Gomes, a força da autoestima da população permite esta abordagem cômica. “A autoestima do povo cearense sabe qual é realmente o problema a ser considerado. O estado tem um povo que sofreu coisas muito mais graves, períodos de seca, fome, miséria, preconceito. Brincar e fazer piada de si é o de menos”, afirma o diretor. “Além disso, o cearense tem uma compreensão muito evoluída do que é ficção e do que é realidade. Estamos fazendo uma brincadeira dentro de um contexto temporal, que está dentro de um filme. O filme se passa no interior do Ceará, na era do coronelismo, onde não havia sequer a consciência do que significava o politicamente correto”.

Ceará, berço de piadas

O Ceará é considerado o grande berço do humor brasileiro, sendo a origem de artistas como Paula Nei, Chico Anysio, Adamastor Pitaco, Tom Cavalcante, Tiririca, Renato Aragão e Falcão — este último, aliás, também está no elenco de Cine Holliúdy 2. “Existe um sentimento de humor cearense que vem de geração em geração, é como um senso de humor coletivo. E é através do humor que o ceará se conecta com outras regiões”, afirma Gomes.

 

O humor do Ceará é tão forte no país que conta com um museu na capital do estado, Fortaleza, e é considerado patrimônio imaterial protegido pela Lei Estadual Chico Anysio (Lei N.º 220/15). Já era, antes, considerado Referência Cultural pelo Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI).

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