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O potencial económico do Bloco Lusófono

O Bloco Lusófono, enquanto conjunto de países, estados ou regiões onde se fala a língua portuguesa, tem um apelo dificilmente superável por outros agrupamentos de países ou regiões ligados por tratados comerciais ou políticos. O potencial económico do Bloco assenta em vantagens competitivas únicas, sustentadas em grande complementaridade, diversidade, e riqueza económica, social, cultural, geográfica e demográfica.

Numa análise estratégica é possível identificar no Bloco Lusófono vantagens competitivas únicas em áreas críticas ao sucesso no modelo de competição global como a escala, a integração, o crescimento, os recursos, e a complementaridade e diversidade. Vantagens reais do passado e de hoje ainda que muito longe de estarem aproveitadas na grande parte do seu potencial.

Senão, vejamos.

Actualmente, o Bloco Lusófono representa já uns significantes 3,7% da riqueza mundial e engloba mais de 260 milhões de habitantes, que fariam do Bloco Lusófono o 5º país mais populoso do mundo. Para além disso, o Bloco tem acesso, através das integrações e parcerias regionais de cada um dos países, e incluindo Macau (enquanto região autónoma da China) e Goa (como o Estado mais rico da Índia), a cerca de 45% do Produto Interno Bruto global e 61% da população mundial, maioritariamente em regiões com elevado potencial de crescimento. Adicionalmente, se tivermos em conta a diáspora lusófona, a abrangência é então quase completa, não só pelo espírito naturalmente expansivo dos povos lusófonos (vejamos Cabo Verde) mas também pela sua facilidade de integração, e o sucesso e influência que muitas vezes a diáspora atinge fora dos seus países; todos estes são aspectos que se podem reflectir em ganhos económicos, sociais e culturais efectivos.

Talvez mais relevante do que a mera dimensão das economias é o seu dinamismo e potencial de crescimento. O conjunto das economias do Bloco Lusófono apresenta um crescimento acima da média mundial e inclui algumas economias entre as mais promissoras do mundo (como, por exemplo, Moçambique, actualmente uma das 10 economias do mundo com maiores perspectivas de crescimento). É ainda assinalável, tendo em conta o contexto de algumas regiões, observar estas perspectivas de crescimento em países, na sua maioria, com elevado nível de estabilidade política e em paz.

A abrangência geográfica do Bloco significa acesso aos cinco continentes, aos principais oceanos (veja-se Timor, situado entre o Índico e o Pacífico) e a vastos recursos terrestres, marítimos e humanos. O Bloco engloba vastos recursos naturais estratégicos, tais como as significativas reservas de petróleo e gás, a extensa área marítima exclusiva com acesso às principais rotas do comércio mundial e extensas áreas aráveis altamente férteis para uso agrícola. Estes são recursos valiosos hoje e absolutamente decisivos para o futuro tendo em conta, por exemplo, o potencial inexplorado dos oceanos e as necessidades galopantes a nível global em termos de alimentação e outros produtos agropecuários.

Os recursos dos países lusófonos são também financeiros, humanos, técnicos e tecnológicos (e nestes aspectos particularmente complementares). Existem recursos e liquidez financeira (por exemplo no Brasil e em Angola); existe mão-de-obra, uma população crescente e jovem (particularmente nos países africanos); e existem competências técnicas e tecnológicas do mais avançado nível nas diversas áreas como, por exemplo, em Portugal, ao nível da gestão e administração, saúde, educação, inovação e comunicação.

Para conferir sustentabilidade a estes recursos e competências, o Bloco apresenta um valor intangível incomparável em termos de complementaridade e diversidade. Na prática, os países poderiam dentro do espaço lusófono constituir quase todas as parcerias necessárias para alavancar os seus próprios recursos, juntando os recursos naturais de uns com a competência técnica de outros, os recursos financeiros de uns com a necessidade de investimento de outros, a capacidade produtiva de uns com os mercados crescentes e inexplorados de outros.

Os diversos estágios de desenvolvimento possibilitam modelos de crescimento em que o capital, a competência técnica e tecnológica dos países mais avançados se complementa com o crescimento, oportunidades e recursos dos países em desenvolvimento. A integração económica dos países é não só potenciadora de desenvolvimento como mitigadora de riscos por diversificação.

O Bloco Lusófono é já hoje uma realidade no investimento e trocas comerciais intensas, nas múltiplas interacções ao nível cultural, na cooperação e até nos termos de fluxos migratórios. Todos os países têm parceiros lusófonos entre os seus principais importadores, exportadores e investidores, e as parcerias empresariais são cada vez maiores a todos os níveis (muito facilitadas pela proximidade dos sistemas legais e administrativos). Os intercâmbios culturais são cada vez mais na música, na televisão, na literatura. As dinâmicas demográficas continuamente intensas. A cooperação ao nível da educação, por meio de professores e de intercâmbio de alunos, complementada com cooperações militares, missões de desenvolvimento e partilha de conhecimento ao nível do sector privado e também na administração pública.

O Bloco Lusófono é já hoje feito pelos diversos actores económicos, sociais e culturais e poderá ser mais alavancado por instituições, organizações e Estados. Para atingir o seu potencial os intervenientes devem procurar aumentar a sua integração mas é preciso também um esforço conjunto para manutenção da estabilidade económica, social, política e para assegurar um desenvolvimento inclusivo, integrado e sustentável.

O potencial económico quantificável e a riqueza intangível do Bloco Lusófono deixam inveja a qualquer União Europeia, SADC, Mercosul ou Commonwealth. Resta agora que os diversos agentes e os Estados continuem a contribuir para alavancar este potencial para que os países integrantes cresçam e se desenvolvam, e o Bloco que assuma um lugar cada vez mais influente no contexto global introduzindo e disseminando novos modelos económicos, políticos, culturais e éticos. O Bloco Lusófono tem potencial para elevar os países integrantes mas, mais do que isso, capacidade para contribuir para o mundo mais sustentável, justo e equilibrado que o século XXI exige.

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