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Tsunami iminente em Lisboa? Saiba o que os especialistas têm a dizer

Se você estivesse a assistir televisão e suas opções fossem a final da liga dos campeões, um novo atentado terrorista, um aviso de descoberta da cura da SIDA e um alerta de sismo/tsunami iminente de grandes proporções na sua região, haveria alguma chance da sua tv não estar sintonizada nesse aviso enquanto você sai pela porta o mais rápido possível à procura de algum lugar seguro? Os terramotos e suas consequências despertam o nosso mais profundo instinto de sobrevivência. Não há como ser indiferente a isso. Será que os portugueses estão adequadamente alertas para isso?

 

Na última semana, um sismo de magnitude 4,3 na escala de Richter (segundo o IPMA) durou apenas alguns segundos, mas chegou a ser sentido a mais de 150 quilómetros do seu epicentro em Sobral de Monte Agraço, vila portuguesa do Distrito de Lisboa. Embora sem gerar prejuízos ou vítimas, serviu para relembrar que Portugal encontra-se em área de risco sísmico relevante.

 

Mais do que isso. Muitos geólogos e especialistas têm, com cada vez mais frequência, alertado para o facto de que “geologicamente estaria novamente no momento” de haver um sismo potencialmente da magnitude do grande terramoto de 1755 que devastou Lisboa. Isso faz sentido?
José Luís Zêzere, investigador do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, em março deste ano por exemplo, deu como uma “certeza científica” que mais cedo ou mais tarde Lisboa e o Litoral português voltarão a ser atingidos por um sismo seguido de tsunami. Para aprofundar esse assunto entrevistamos com exclusividade Aroldo Maciel, nome de destaque mundial na previsão de terramotos, para falar um pouco sobre o caso concreto de Portugal.

 

1.Muitos especialistas têm falado nos últimos anos, que geologicamente teríamos chegado novamente à “época” de um novo terramoto em Portugal, do porte do grande sismo de 1755. Esse último tremor serve como uma confirmação da proximidade desse evento ou, ao contrário, pode eventualmente representar alguma acomodação de terra que protele novos abalos?

 

Os especialistas dedicaram muitos anos aos estudos e análises de dados sobre esse assunto e acredito que sim, a cautela é necessária. Os especialistas estão atentos a qualquer sinal e isso poderia significar uma nova etapa no ramo das ciências da terra.

Já são 262 anos de acumulo de energia e isso é que torna essa hipótese tão assustadora, cada dia que passa, Portugal tem mais chances de uma recorrência de um evento como o de 1755.
— Aroldo Maciel

 

Já são 262 anos de acúmulo de energia e isso é que torna essa hipótese tão assustadora, cada dia que passa, Portugal tem mais chances de uma recorrência de um evento como o de 1755. Para entender melhor essa questão, podemos dizer que quando ocorre um terremoto de grande magnitude, a área afetada entra em um silencio sísmico que pode durar muitos anos, durante esse período o stress tende a aumentar, quanto mais tempo dura esse intervalo entre os eventos, maiores são as probabilidades de recorrência no local.

 

 

2. É possível estatisticamente apontar a probabilidade de acontecer novos abalos sísmicos mais intensos nos próximos 2 a 5 anos?

O histórico de eventos em Portugal tem uma média bem baixa, o último evento, de 4.0, foi registrado no dia 26 de março de 2012 pouco mais ao sul. A média de eventos como o último que ocorreu não chega a um em cada 7 anos. Sobre a recorrência de um evento igual ou superior ao de 1755 entre os próximos anos, as probabilidades existem e qualquer especialista sabe disso.

 

 

3. É possível mensurar os locais mais prováveis de acontecer o epicentro de um eventual grande terramoto em Portugal?

Portugal tem um histórico positivo, com baixos riscos e com pouquíssima atividade sísmica relevante em seu território. Isso poderia ser negativo
— Aroldo Santos

Sim! Eu acredito que os locais com históricos de abalos são sempre os mais propícios com uma diferença de algumas centenas de quilômetros. Sabemos que os sismos vão ocorrer e isso é natural, o que devemos saber é os locais em que ocorreram os grandes terremotos no passado podem ser considerados zona de risco

Portugal tem um histórico positivo, com baixos riscos e com pouquíssima atividade sísmica relevante em seu território. Isso poderia ser negativo pois, quando ocorre um evento como esse de 4.2, as pessoas se assustam. Saber dos riscos ajuda a pessoa a raciocinar melhor mediante o perigo e agir de forma tranquila. Ter planos de emergência e kits de sobrevivência podem fazer a diferença em algumas situações que envolvam terramotos ou outros sinistros. Eu estou monitorando agora o Atlântico, na madrugada de hoje (18 de agosto) tivemos um 6.6 pouco comum e isso pode sim estar causando algum tipo de perturbação na região entre Portugal, Espanha, França Grécia e Turquia.

 

4. O que devemos mais temer no caso de Portugal: o tremor em terra ou as consequências vindas do mar como eventuais Tsunamis, por exemplo?

 

A boa notícia é que, desde o terremoto de 1755, Portugal mudou muito, ganhou construções com reforço e isso deve minimizar o impacto caso um novo terramoto semelhante ao de 1755 ocorra. Sabemos que as consequências dos terramotos podem ser amenizadas com construções antissísmicas e conscientização da população. Os simulacros são a melhor maneira de fazer isso. O problema aí seria eventos acima de 8 no Oceano Atlântico, isso poderia gerar ondas destrutivas com alto risco de atingirem uma série de países banhado por ele. O grande exemplo foi o tão falado terremoto de Lisboa em 1755, que foi capaz de gerar um tsunami com vítimas mortais em cidades litorâneas do Brasil. Com Portugal não seria diferente: um evento de origem sísmica ou erupções vulcânicas no Atlântico já seriam suficientes para gerar as tais ondas em terras portuguesas.

 

 

5. O que Portugal pode aprender com o Chile em matéria de organização social na redução de efeitos colaterais de um sismo? De que forma os abalos frequentes no país sul-americano criaram uma cultura de prevenção e prontidão capaz de fazer com que a população diante de um alerta consiga ao invés de entrar em pânico, tomar as atitudes necessárias?

Portugal evoluiu muito com o terramoto de 1755, infelizmente depois de alguns anos se não existe uma recorrência de eventos, deixamos a precaução de lado e seguimos com a vida. No Chile é bem diferente, eles têm órgãos responsáveis pela conscientização da população, os kits de emergência e os simulacros mostram que os terramotos fazem parte da cultura. Isso é o diferencial, o Chile passou por dois eventos de 8.4 nos últimos anos, em abril de 2014, um 8.4 deixou todos muito assustados mas nada grave. Em 2015, em 16 de setembro, um 8.4 destruiu a região de La serena, Coquimbo. Um Tsunami devastou a costa e para nossa surpresa um saldo de apenas 12 mortos.

A pergunta não é se vai ocorrer, mas sim quando vai ocorrer o grande terramoto da Europa

Eu acredito que antes de conscientizar a população os governantes devem aceitar que um dia um evento vai ocorrer em Portugal novamente, tomar as providências antes seria salvar a vida de milhares de pessoas. Devemos levar em conta de que se o mesmo terremoto de La Serena ocorresse na costa de Portugal, os efeitos poderiam ser ainda piores do que o de 1755. Não só Portugal, mas os países que sofrem com isso na Europa podem evitar o pior se investirem em construções antissísmicas. A pergunta não é se vai ocorrer, mas sim quando vai ocorrer o grande terramoto da Europa.

 

  • Aroldo mantém seus seguidores informados de novos alertas sísmicos principalmente através da sua conta de Twitter.

 

Quem é Aroldo Maciel

Seguido por quase meio milião de pessoas no Twitter, figura recorrente em programas de televisão e jornais. Sem diploma de geólogo, o brasileiro se tornou famoso na América Latina por descobrir um padrão que antecede os abalos sísmicos. Graças ao seu trabalho, ele conseguiu prever, com antecedência de dias, dez terremotos, com magnitude mínima 6 pontos na escala Richter, desde 2012.

Morador de Cuiabá, Brasil, Aroldo Maciel Máximo dos Santos era operador de áudio antes de começar a se especializar na previsão de sismos. Sua notoriedade veio pelo facto de acertar mais do que os sistemas convencionais. Chegou a receber uma carta de agradecimento do ex-presidente chileno Sebastián Piñera. Segundo Aroldo, seu maior objetivo é reduzir a fatalidade gerada por esses sismos no mundo, salvando vidas.

 

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