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Criolo fala o que pensa da lusofonia em entrevista exclusiva

(Imagem: Reprodução)

Criolo é daquelas pessoas que confundem os sentidos: nunca se sabe se quem fala é o rapper que atua nos palcos, o filósofo que compõe ou um amigo de longa data que confidencia os sentimentos mais pessoais.

O rapper brasileiro nos recebeu em seu camarim para uma conversa pouco antes de subir ao palco em Lisboa. Assista à conversa e viaje com as reflexões desse artista singular e apaixonante com opiniões cheias de personalidade:

No encontro, Criolo falou um bocado sobre a sua trajetória pessoal na música:

– A gente não tinha nem rádio em casa. Ouvir música é um luxo! Falar de arte, num planeta onde as pessoas estão passando fome, é um luxo – explica o rapper, que cresceu no Grajaú, em São Paulo, descobriu o ritmo aos 12 anos e desde então não deixou de rimar tudo o que seus olhos miram.

Vinte e cinco anos depois, Criolo viu o reconhecimento massivo da juventude brasileira com o álbum Nó na Orelha, em 2011, e agora percorre o mundo com a turnê do seu terceiro disco, Convoque seu Buda (ambos disponíveis para download no seu site oficial).

Durante a conversa, o desafiamos a falar sobre lusofonia. Ele destacou a importância da consciência e da valorização das unicidades, do respeito às diferenças que vão muito além do sotaque do português – também diversificado – que nos une.

– [precisamos] entender essas nuances de momento, de situação, fisica até, de como está essa aura, como está esse corpo. E é lógico, é a força da nossa língua, da nossa gramática, nas diferenças da nossa gramática você tem uma teia muito rica culturalmente, foneticamente. É uma construção completamente diferente. Depois você vai ver a como é o corpo dessa pessoa: as pessoas andam diferente, as pessoas dançam diferente. Como é essa construção? Eu falo português e você fala português, mas na hora que bate aquele ritmo a gente dança diferente.

E de mistura Criolo entende. Rap, samba, rock, reggae e forró são alguns dos gêneros pelos quais o rapper transita com leveza e naturalidade no seu último disco, o que mostra que não há barreiras musicais para o seu trabalho.

– Eu acho bom a gente se conhecer, porque alguma coisa a gente tem em comum: alguém nos colonizou. E como é que está cada pessoa pós-colônia? Como é que está o nosso olho para o mundo e os olhos do mundo pra gente? Na questão econômica, na questão política, nessa geopolítica maluca… Isso eu acho extremamente valioso. Porque são etapas da vida de uma geração. Então, ver essa nova geração querendo abrir diálogo e se importando com uma construção cultural é extremamente valioso.

Já que a conversa corria solta, arriscamos “provocar” o rapper com a música Lá de Angola, de João Nogueira, que diz que “o samba vem lá de Angola, não vem da Bahia, não”.

Com a simplicidade e sinceridade que lhe são característicos, Criolo destacou que a valorização das origens não pode dar espaço à cristalização cultural:

– O samba nasceu onde nasceu o seu coração. É importante valorizar a nossa africanidade, eu também acredito  que nasceu de lá a música, os tambores, a música toda nasceu de lá. Pra mim, no meu coração. Mas para um garoto que mora no mesmo bairro que eu, ele lá quer saber disso! […] Assim como a  palavra, que todos os dias morre e nasce, assim também é o ritmo, e a história. A importância de falar de nossas raízes, mas a importância de deixar esse novo fazer a sua construção e ver o que vai ser disso.

Conversar com Criolo é assim: uma experiência transcendental, onde é preciso estar de coração aberto não só para entender, mas sobretudo sentir.

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