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Foram descobertos três poemas inéditos de Carlos Drummond de Andrade

Uma aluna do curso de Letras da Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo, descobriu três poemas inéditos do escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade.

 

Mayea Fontebasso, o nome da aluna, fez a descoberta quando pesquisava textos literários publicados na revista Raça, uma publicação literária, que foi editada entre 1927 e 1934 e teve apenas 17 números.

 

A estudante e o seu orientador procuraram os respetivos poemas nas coletâneas que compilam todas as obras do autor e não os encontraram, tendo recebido mais tarde a confirmação e um especialista na obra do poeta, de que de facto eram material inédito.

 

Transcrevemos em seguida um dos poemas inéditos agora descobertos.

 

 

O poema das mãos soluçantes, que se erguem num desejo e numa súplica

 

Como são belas as tuas mãos, como são belas as tuas mãos pálidas como uma canção em surdina…

As tuas mãos dançam a dança incerta do desejo, e afagam, e beijam e apertam…

As tuas mãos procuram no alto a lâmpada invisível, a lâmpada que nunca será tocada…

As tuas mãos procuram no alto a flor silenciosa, a flor que nunca será colhida…

Como é bela a volúpia inútil de teus dedos…

O poema das mãos que não terão outras mãos numa tarde fria de Junho

Pobres das mãos viúvas, mãos compridas e desoladas, que procuram em vão, desejam em vão…

Há em torno a elas a tristeza infinita de qualquer coisa que se perdeu para sempre…

E as mãos viúvas se encarquilham, trêmulas, cheias de rugas, vazias de outras mãos…

E as mãos viúvas tateiam, insones, − as friorentas mãos viúvas…

O poema dos olhos que adormeceram vendo a beleza da terra

Tudo eles viram, viram as águas quietas e suaves, as águas inquietas e sombrias…

E viram a alma das paisagens sob o outono, o voo dos pássaros vadios, e os crepúsculos sanguejantes…

E viram toda a beleza da terra, esparsa nas flores e nas nuvens, nos recantos de sombra e no dorso voluptuoso das colinas…

E a beleza da terra se fechou sobre eles e adormeceram vendo a beleza da terra…

 

Leya

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