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Guiné-Bissau: uma conversa com a nova geração de futuros líderes

Os jovens guineenses procuram cada vez mais formação na área do desenvolvimento e capacitação de liderança. A Bolsa Mandela Washington Fellowship, mais conhecida por Iniciativa Jovens Líderes Africanos (YALI) e a Academia Ubuntu Guiné-Bissau são programas de capacitação em liderança que têm atraído a participação de jovens guineenses. Mas quais as motivações desses jovens e como associam a questão da liderança ao país?

 

Os jovens líderes guineenses

Faz quase um ano que Binta Sabali e Abdu Indjai integraram a turma de 70 alunos da 1.ª edição da Academia Ubuntu Guiné-Bissau. Já na fase final deste projeto trazido à Guiné-Bissau em Novembro de 2014, por influência de outros jovens guineenses que participaram dele em Portugal, estes dois quadros das forças de defesa e segurança da Guiné-Bissau, se integraram ao grupo que está a desenvolver um projeto de formação e sensibilização dos chefes dentro da classe castrense.

 

A terceira integrante, e bolseira YALI 2015, é Ilsa Sá. Ilsa é assistente de projetos na organização não governamental Tiniguena e regressou há pouco tempo de uma formação e estágio em liderança cívica nos Estados Unidos, ao abrigo da Bolsa Mandela Washington Fellowship 2015 que já acolheu a participação de diversos jovens líderes guineenses desde 2012.

 

Motivações

 

Os três jovens líderes guineenses deixaram claro as suas motivações: a temática em si e a busca pelo conhecimento.

 

“Sempre tive grande interesse pelo tema da liderança, mesmo no (contexto do) associativismo, (mas) faltavam-me ferramentas para saber como um líder deve ser, qual o seu papel”, avançou Binta.

 

Por outro lado, Ilsa entende que, no seu caso a “componente prática de desenvolver capacidades em termos de liderança e a oportunidade de conviver com outros jovens líderes do continente africano” foram as principais motivações.

 

Abdu viu desde logo que era uma oportunidade de “conhecer os líderes, saber da sua história para saber como conduzir-se a si próprio”, enquanto jovem líder.

 

 

Um olhar sobre a liderança na Guiné-Bissau

Quando se fala da Guiné-Bissau e de Liderança, Ilsa Sá afirma sem qualquer hesitação que “a Guiné-Bissau tem líderes” e quando se refere aos mesmos, está a falar de “líderes que são jovens, com idade até aos 45 anos”, pois “tem que olhar para os que estão na sua faixa etária”, mas diz que falta aos jovens olharem para os seus pares e reconhecerem que “este é tão bom quanto o presidente dos Estados Unidos da América”. A bolseira Yali 2015 não se fica por aí e defende que os jovens é que são os líderes de hoje, mas são “líderes anónimos” e que “deve haver uma preocupação das instituições públicas em dar voz a esses líderes”, sem esperar a velhice por um reconhecimento, uma prática que considera ser influenciada pela cultura do país.

 

Ao trazer a liderança para o campo político, Ilsa afirma que o “tipo de liderança que se tem praticado não serve ao país”, justificando que é uma liderança “interesseira” que tem “hipotecado o país durante 42 anos” e, nesse contexto, sugere que os “políticos poderiam aprender com os jovens líderes anónimos que fazem muito com muito pouco”.

 

Já o primeiro pensamento que ocorre na mente de Binta é de que o país “não tem líderes, mas sim chefes”, ou melhor, reformula as ideias e defende que “resumindo e concluindo, na Guiné-Bissau temos mais chefes, porque cada qual pensa na sua pessoa e isso não é característica de um líder, mas de um chefe”.

 

Mas e Amílcar, considerado pela história o líder da luta de libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde? Binta responde que “Amílcar Cabral foi líder no seu tempo, mas não no contexto atual”, “foi um líder exemplar para o mundo, não só para a Guiné-Bissau e nós que vamos ser líderes, inspiramo-nos nele hoje”.

 

Enquanto isso, o colega Abdu diz que pode haver líderes no país, mas talvez não saibam “descodifica-los”, acrescentando ainda que dos líderes que hoje são chamados ou entendidos como tal, não consegue ter a certeza da sua genuinidade e que estejam próximo do conceito do “líder servidor” que têm vindo a aprender há quase um ano na Academia Ubuntu.

 

O futuro a quem pertence?

Segundo o relatório do Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento sobre o estado da população mundial em 2014, o mundo regista hoje um número de população jovem jamais visto em qualquer outro momento da história da humanidade e a maior parte dessa população jovem reside nos países menos desenvolvidos. Concretamente, 89% dos jovens do mundo entre os 10-24 anos vive nos países menos desenvolvidos, como é o caso da Guiné-Bissau, onde 32% da população tem idade compreendida entre os 10-24 anos.

 

O que é certo é que, apesar dos números, África tem apenas uma pequena porção de líderes entre os 35-55 anos. Quando comparada com outros continentes, a média de idade dos líderes é de 65, de acordo com um artigo da CNN sobre a idade dos líderes em África.

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