Jovens angolanos criam cada vez mais soluções inovadoras para o seu país
5 minSegundo dados do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), os jovens constituem a maioria da população angolana. Além disso, representam a camada com o maior crescimento proporcional do continente africano. A junção dos grupos etários dos 0 aos 14 anos e dos 15 aos 24 anos de idade ajudam a constituir um núcleo social extremamente novo, correspondendo a cerca de 65% dos habitantes locais.
Tendo em conta os dados supracitados, o crescente envolvimento dos jovens angolanos no engrandecimento do país é justificável. Além de possuírem mentes frescas e ousadas, dão voz, corpo e alma a diversos projetos que contribuem para o desenvolvimento de Angola. Se, por um lado, uns abarcam os departamentos da ciência e da tecnologia — dois dos principais motores do crescimento —, outros focam-se na expansão do setor agrícola — uma das maiores potencialidades nacionais.
Com o intuito de realçar as recém conquistas dos jovens angolanos, reunimos alguns dos seus projetos. A audácia, a inovação e a criatividade são alguns dos adjetivos-chave que os caracterizam e celebram.
Minha Água | Minha Vida
Nasceu de uma iniciativa de cinco jovens angolanos que desejavam democratizar o acesso à água potável, nas comunidades locais. Perseguindo este objetivo, as mentes criativas do projeto desenvolveram um biofiltro capaz de tratar as fontes de água.
Já que muitas zonas rurais têm sido assoladas por problemas decisivos, como a falta de saneamento básico, os cinco jovens, que integram o centro Química Verde Lab, em Luanda — cuja principal missão passa pela oferta de habilidades, conhecimentos e serviços que possam suprir as necessidades de mercado —, simplificaram e criaram um dispositivo que consegue filtrar a água, transformando-a em potável. Este novo engenho, que se assemelha a uma estação de tratamento de água, consegue remover cerca de 98% dos agendes patogénicos causadores de doenças. Além disso, cada filtro fornecerá água potável para uma família constituída, em média, por seis pessoas.
O ponto de partida para a atuação desta nova ferramenta deu-se na província de Bengo. No entanto, os cinco cientistas envolvidos — António Adelino Quilala, mestre em química e gestor do projeto; Yonara Tchissola de Freitas, especialista em engenharia do petróleo e supervisora do grupo; Manuela Miguel Filho, enfermeira e coordenadora de engenharia de higiene e saneamento básico; Diatumua Simão, geofísico e supervisor técnico; e Manuel Fonseca, técnico de petroquímica — anseiam expandir o biofiltro até outras regiões. Para isso, estão dependentes do financiamento de entidades e doações. Se pretende ajudar, basta aceder à página oficial de facebook do centro.
Kepya — agromercado digital
Trata-se de uma plataforma de comercialização de produtos agrícolas, fornecendo informações sobre a disponibilidade e a necessidade de determinados produtos para, depois, promover a sua rápida transação no meio digital. Pode ser utilizada através da internet, chamada telefónica ou pelo envio de mensagens de texto. Sediada em Luanda, esta inovadora startup pretende estreitar as relações e operações do universo agrícola nacional. A sua estrutura assenta em quatro polos essenciais: produtor, agregador, comprador e transportador.
Os produtores serão as figuras responsáveis pela garantia de determinados produtos, provenientes da agricultura familiar ou comercial — manual ou mecanizada. Tendo em conta que as monoculturas são o setor mais expressivo do país e que os seus produtores, regra geral, não são fluentes na escrita ou na leitura, assim como, não sabem lidar diretamente com a tecnologia móvel, a Kepya permite-lhes que divulguem os seus produtos por chamada de voz. Para aqueles que têm um maior facilidade na comunicação textual e digital, estes poderão divulgar as suas ofertas através do aplicativo móvel.
Por sua vez, os papéis de agregadores serão desempenhados pelos jovens residentes nas zonas rurais do país. Estes precisarão de ter uma relação próxima com as funcionalidades da tecnologia móvel. Serão os responsáveis pela coordenação, agregação e representação dos produtores dentro da Kepya. A par destas tarefas, estarão incumbidos de recolher informações sobre os planos de produção agrícola; de monitorizar a evolução da cultura; de publicar a data da colheita; e de definir a tipologia dos bens, a sua quantidade e os respetivos preços.
De uma forma geral, ao permitir a segmentação das tarefas, a plataforma permite que o produtores se concentrem exclusivamente na produção, deixando a tarefa comercial para os agregadores. Consequentemente, a Kepya vai criando novas oportunidades de emprego.
Os compradores representam as unidades de comércio distribuídas, ao longo do território angolano. Estes serão os principais responsáveis pela garantia do fornecimento dos produtos agrícolas para o mercado de consumo. Hoje em dia, devido à dificuldade acrescida na obtenção de produtos nacionais de qualidade e a bom preço, a Kepya vem salvaguardar o acesso a uma rede nacional de produtos agrícolas que, além de credível, é diversificada.
Quando uma transação é considerada bem-sucedida, os transportadores, que precisam de estar registados na plataforma, serão notificados sobre a oportunidade de frete. É-lhes incumbido um prazo de aceitação da tarefa para que, depois, possam ser agendadas a recolha e a entrega da mercadoria. Deste modo, o trabalho de logística deixa de ser uma responsabilidade acrescida para o produtor e comprador, passando a ser gerido pelo transportador e pela jovem e empreendedora equipa da Kepya.
Otchitanda
É uma solução de e-commerce angolana na qual os comerciantes — singulares ou empresas — podem vender produtos novos ou usados. Além de facilitar o método de pagamento, esta plataforma, gerida por uma equipa jovem especializada em comércio eletrónico, permite a conexão dos utilizadores com várias lojas. Por um lado, cada comerciante possui total autonomia sobre a sua loja; por outro, cada comprador/cliente tem o poder de classificar cada loja. É importante realçar que ambas as partes — a que vende e a que compra — podem comunicar num chat online, de forma sigilosa.
Esta aplicação foi a vencedora do evento de tecnologia Seedstars Lunada 2018. A sua principal missão passa pela mobilidade eficiente, através de um serviço peer-to-peer de partilha de viagens.
De forma resumida, esta plataforma foi concebida para oferecer uma experiência de marcação de viagem, ajudando o utilizador a organizar melhor o seu tempo e a sua agenda, até chegar a um destino. Assemelha-se, de certa forma, ao serviço prestado pelas empresas internacionais Uber, Bolt e Cabify. Para que os utilizadores possam usufruir dos seus serviços, precisam de descarregar a aplicação móvel. Depois disso, inserem a rota que pretendem fazer, aceitam as condições do custo/tempo de viagem e, assim que chegarem ao destino, validam o sucesso da mesma.
A Kubinga foi projetada para suprir uma necessidade de mercado, aproximando os condutores de pessoas que precisam de transportes. Este projeto prevê aumentar, em larga escala, o número de vagas de emprego no país.
Tellas
É uma plataforma digital que partilha com o mundo obras cinematográficas exclusivas e produzidas no continente africano. Reúne YouTubers, curtas e longas metragens, filmes e vídeos, assim como outras produções audiovisuais, para que possam ser visualizados em vários lugares do mundo. Assemelha-se a um repositório sagrado da sétima arte.
Para o futuro, a Tellas tenciona construir um estúdio que possibilite a produção de conteúdo, valorizando os atores, realizadores e produtores de filmes africanos.
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