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O petróleo barato é a melhor e a pior notícia de 2015

(Imagem: Reprodução MT5.com)

 

No último outubro a Agência Internacional de Energia reviu para baixo a estimativa de demanda energética no mundo. A OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), ainda que sob pressão contrária de alguns produtores, por sua vez decidiu manter a produção no nível atual. O resultado foi uma queda vertiginosa no preço do barril de petróleo.

 

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Queda do preço do petróleo desde outubro de 2014 (Imagem: Reprodução NASDAQ)

 

O que parece ser mais uma das costumeiras oscilações especulativas e, neste caso, sinal de combustível mais barato para todos, pode ser o início de um grande problema para a economia lusófona.

 

O combustível mais barato para todos pode se tornar um grande problema para a economia lusófona.

 

Nos países da CPLP (Comunidade dos países de língua portuguesa) o petróleo é cada vez mais relevante. Angola, Brasil e Guiné Equatorial surfaram nas cotações historicamente altas do ouro negro nos últimos anos. Angola, tradicionalmente exportadora da commodity e único país lusófono membro da OPEP, tem financiado a reconstrução do país no pós-guerra com esses recursos e já injetou na economia bilhões de dólares. O Brasil tornou viável a caríssima exploração de óleo nas profundas camadas submarinas do pré-sal. Moçambique, dono do maior campo de exploração de gás natural do mundo, aproveitou o cenário internacional para viabilizar as mobilizações necessárias para a futura exploração das suas reservas. Isso sem citar a Guiné Equatorial, que é a terceira maior exportadora de petróleo da África Subsaariana.

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Preço médio do Barril de petróleo acima dos U$ 100 nos últimos anos. (Imagem: Reprodução NASDAQ)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há um ano, o barril de petróleo custava mais de $ 100. Desde então já perdeu quase metade desse valor. Junte a isso o fato da receita dos hidrocarbonetos representarem mais de 13% do PIB brasileiro*, mais de 70% do PIB angolano, mais de 80% do PIB da Guiné Equatorial, e o futuro promissor em que aposta Moçambique, e teremos um 2015 de grandes desafios.

 

Não se trata apenas de esperar grandes cortes orçamentais nesses países pontualmente. Com Brasil e Rússia tendo suas economias fortemente afetadas (O Brasil por conta da sua maior empresa em grave situação e a Russia pela forte queda de receitas oriundas do petróleo) a representatividade dos países BRIC como locomotiva do desenvolvimento mundial fica em cheque.

 

A pergunta é: por que o Oriente Médio influenciou a interrupção do ajuste da produção à demanda global, derrubando o preço do petróleo, sendo ele próprio o maior produtor?

 

A pergunta é: por que o Oriente Médio influenciou a interrupção do ajuste da produção à demanda, derrubando o preço do petróleo, sendo ele próprio o maior produtor? Uma das razões deriva dos números a seguir: enquanto entre 2002 e 2012 países como Arábia Saudita, Kuwait e Estados Unidos elevaram suas reservas conhecidas respectivamente em 1,2%, 5,2% e 14%, Angola, Brasil e Venezuela por sua vez tiveram suas reservas de petróleo aumentadas em 42,7%, 56,1% e 285%. Em maio de 2012 a Venezuela aumentou em 40% as reservas conhecidas de petróleo, destronando a Arábia Saudita como detentora da maior reserva do planeta. A previsão para os próximos oito anos é que o Brasil dobre as suas reservas alcançando 15,6 bilhões de barris. Como se não bastasse, a produção de petróleo nos Estados Unidos hoje é a maior dos últimos 30 anos. O mundo em geral tem conseguido aumentar substancialmente as suas reservas conhecidas de hidrocarbonetos. Isso naturalmente não agrada nem um pouco o tradicional cartel de produtores árabes.

 

Vale lembrar contudo que tanto a produção de óleo dos Estados Unidos e Canadá (em grande parte proveniente do xisto), quanto o petróleo brasileiro do pré-sal, e mesmo o angolano, têm em comum um custo de extração bastante superior ao modelo do Oriente Médio. No caso brasileiro, por exemplo, a maior parte dessas reservas só é financeiramente rentável de ser explorada com preços de venda acima dos U$ 45 /barril. Enquanto isso, na Arábia Saudita, esse mesmo custo mínimo ronda os U$ 4.

 

O preço do petróleo acima de U$ 50/barril por tantos anos não só estimulou a corrida a reservas antes desconhecidas, como viabilizou a extração das mesmas em condições antes não cogitadas. O Oriente Médio diante desse cenário acumulou lucros faraônicos por muitos anos e agora ao que parece está disposto a manter o excesso de oferta no mercado e consequentemente o preço baixo, pelo tempo suficiente para desestimular a expansão de novas descobertas e, se possível, inviabilizar muitas das explorações dos concorrentes.

 

A decisão de sacrificar fortemente as próprias margens de lucro no curto e médio prazo para enfraquecer a concorrência mostra o quão acirrado e por vezes escorregadio é o mundo do ouro negro.

 

Como já dizia o primeiro magnata americano do petróleo,

 

“o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada, o segundo melhor é uma empresa de petróleo mal administrada”.
— John Rockfeller

 

 

 

 

 

 

 

Se esse cenário perdurar, teremos ainda um outro problema bem maior, neste caso, para o planeta: com o petróleo custando menos da metade do preço dos últimos anos, a transição do cidadão médio e consequentemente das empresas para o investimento em energias renováveis fica seriamente prejudicada. Em momentos como este a economia costuma falar mais alto (infelizmente) e com o preço dos combustíveis em queda livre, as pessoas certamente postergarão decisões que se antes representavam economia, agora ficarão muito mais a cargo da ideologia.

 

Se a teoria se confirma só o tempo dirá. No próximo artigo vou abordar de forma detalhada os riscos desse contexto para economia lusófona e como países como Angola e Brasil podem fazer desta crise uma grande oportunidade.

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