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Quem são os jovens da “geração nem-nem” brasileira?

(Imagem: Shutterstock)

Um em cada cinco jovens brasileiros entre 15 anos e 29 anos (20,3%) não estudava nem trabalhava em 2013. O dado é da Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o instituto, a faixa etária que mais concentra os chamados nem-nem é a de 18 a 24 anos, em que 24% da população não está nas escolas nem no mercado de trabalho. Entre os 25 e 29 anos, a proporção dessas pessoas é 21,8%.

O estudo comparou o mercado de trabalho de 2013 com o de 2004. Segundo a análise, no período a população de 16 anos ou mais aumentou 18,7%, mas a população economicamente ativa, ou seja, aquela que trabalha ou procura emprego, cresceu apenas 13,6%. A maior parte dessa população acabou se deslocando para a população não economicamente ativa (que não trabalha nem procura emprego), gerando um percentual de 30,6%. Entre as pessoas não economicamente ativas, 22,2% eram jovens de 16 a 24 anos. Quarenta por cento deles tampouco estavam estudando.

Contudo, a pesquisa não indica possíveis causas para o crescimento desta parcela que une jovens gestantes em regiões carentes do país, desocupados por vocação, desempregados sem rumo ou gente em plena criação de caminhos novos.

– É uma questão preocupante para as políticas públicas. Esse é o momento essencial para saber se esses jovens estão estudando e se qualificando, porque eles serão a força de trabalho dos próximos anos – , disse a pesquisadora do IBGE Cristiane Soares.

 

Crise econômica ou comodismo das novas gerações?

A alta rotatividade nas empresas e a quase baixa perspectiva de conseguir uma estabilidade financeira independente são pontos importantes de desânimo para os jovens brasileiros, que se beneficiam do aprimoramento das condições de vida do país e optam por prolongar o período na casa dos pais por anos ou décadas.

– É uma geração com baixa auto-estima, desconectada, que não pensa no futuro. Ela tem medo de assumir responsabilidades, e o que nos trouxe a isso foi o estilo de vida que levamos hoje. Tudo é transitório, passageiro, nada mais é sólido – avalia o jurista e professor Luiz Flávio Gomes, diretor-presidente do Instituto Avante Brasil, em entrevista ao jornal Zero Hora.

De acordo com o ex-promotor, ao menos uma parcela dos jovens, incentivada pela fluidez da internet, está “inerte e anestesiada”, sem conseguir se encontrar “nem nos relacionamentos com os pais, nem com os amigos, nem com a sociedade”.

Segundo a reportagem, a crise financeira que atravessa o globo desde 2008 é uma das pistas para enxergar a origem desse suposto fenômeno. Cabe lembrar que o Brasil não está sozinho a embalar os seus nem-nem – a recessão na União Europeia lançou ao desemprego quase um quarto dos menores de 25 anos, proporção bastante superior aos cerca de 11% de desemprego geral no velho continente, indicativo de que, quando a crise aperta, são os jovens que sofrem mais.

 

Mulheres do Norte e Nordeste são maioria entre jovens que nem estudam nem trabalham

De acordo com os dados do IBGE, a representante típica dos nem-nem é mulher, mãe, pobre e habitante da região Norte ou Nordeste do país. De acordo com os dados do IBGE, os nem-nem são proporcionalmente maiores na Região Nordeste, entre as mulheres e as pessoas com o ensino fundamental incompleto. Também estão mais localizados nos domicílios com renda per capita de até meio salário mínimo.

Este dado aponta que também a geração nem-nem está representada de forma irregular no país. Em regiões com menos desigualdade econômica, o número é expressivamente menor: o Sul, por exemplo, apresenta a menor densidade (15%) de jovens que não trabalham nem estudam.

 

Uma pausa para buscar novos rumos

Há quem abandone o trabalho para investir em um período sabático como forma de se renovar e avaliar os rumos a tomar no futuro. Seja por ideologia ou pelo desgaste causado após os primeiros anos no mercado de trabalho em um emprego exaustivo, uma parcela dos jovens que opta por fazer uma pausa no “ritmo natural da vida profissional” e, em seguida, um novo recomeço. Mas este grupo não tem grande representatividade entre os nem-nem, uma vez que para conseguir desfrutar com sucesso este período é imprescindível ter reservas financeiras.

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