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Welwitschia: a planta “imortal” de Angola

3 min

É alcunhada de “polvo do deserto” devido ao comprimento das suas folhas, que se assemelham a tentáculos. Apesar do seu aspeto desgrenhado, incolor e seco, a welwitschia mirabilis é considerada uma planta singular. Além de ser a mais famosa do território angolano, possui uma característica invejável: a longevidade. Segundo as informações recolhidas pelos especialistas, pode ultrapassar os mil anos e o seu único habitat é o vasto deserto do Namibe, localizado no sul de Angola, que se estende até à Namíbia.

 

A welwitschia, “botanicamente” explicando, é considerada uma planta rasteira, formada por um caule grosso que não cresce e que está ancorado a uma enorme raiz. Embora aparente possuir muitas folhas, devido às suas dimensões gigantescas e ao facto de se bifurcarem, tem apenas duas — que podem atingir os quatro metros de comprimento. Até aos dias de hoje, é adjetivada de bizarra e cadavérica pelos olhos leigos, mas, para os estudiosos, é sinónimo de fascinante e enigmática.

 

Pormenor do caule da welwitschia, que se assemelha a um tronco de uma árvore — Imagem: Reprodução Max Pixel

Quando tentamos procurar os seus parentes vivos, descobrimos que esta é considerada uma planta órfã, integrando uma família botânica — apelidada de welwitschiaceae — que possui apenas um elemento: a própria welwitschia mirabilis. Segundo os especialistas, os pinheiros são a espécie que mais se aproxima desta. Possui características antagónicas e muito peculiares que, de acordo com as pesquisas científicas, não são encontradas em mais nenhum ser vivo. É reconhecida como o “fóssil vivo”, devido ao seu legado milenar: habita o planeta Terra, desde o período Jurássico (era dos dinossauros).

 

Apesar da sua “casa” ser árida, a welwitschia consegue, através das suas folhas, absorver partículas de água da atmosfera (o orvalho). Durante o dia, mantém-se mais “retraída”, libertando-se no período noturno. A sua fotossíntese, em vez de acontecer no ciclo luminoso, ocorre na fase escura. Assim como os catos, esta planta armazena o alimento nas folhas carnudas e suculentas.

 

Estudada no século XIX pelo biólogo austríaco Friedrich Welwitsch, esta espécie era denominada N’Tumbo, pelos nativosPor este motivo, o responsável pelo seu primeiro registo botânico quis chamá-la Tumboa bainesiinome que mais tarde seria alterado para welwitschia mirabilis, para homenagear o homem que a investigou.

 

Segundo o poeta angolano Namibiano Ferreira, esta espécie é considerada um “símbolo de resistência, tenacidade e sobrevivência”, conseguindo aguentar temperaturas superiores a 60 graus e até cinco anos sem chuva. Por estes motivos, é também vista como um emblema que eterniza a força de Angola.

 

Um exemplar de uma welwitschia mirabilis — Imagem: Reprodução Thomas Schoch

Segundo as pesquisas, existem plantas machos e fêmeas que exibem cones com formas diferentes. O masculino assemelha-se a uma pinha avermelhada, na qual nascem minúsculas flores amarelas; já o feminino apresenta uma fisionomia ovalada de tom azulado. A welwitschia é considerada uma planta espermatófita, ou seja, é capaz de produzir as suas próprias sementes. Estas, devido ao vento do deserto, são espalhadas pelo solo do Namibe, sendo, geralmente, desta forma que se reproduz. No entanto, o processo de desenvolvimento é lento e, consequentemente, a espécie está catalogada como ameaçada. Os esforços têm sido direcionados para o cultivo da welwitschia mirabilis em ambientes controlados.

 

Curiosidades sobre a welwitschia

 

O famoso biólogo inglês Charles Darwin apelidou a welwitschia mirabilis de “ornitorrinco do reino vegetal”, porque, à semelhança deste mamífero subaquático que põe ovos, esta planta mescla duas características antagónicas: a estranheza e a beleza;

 

Segundo os registos, o maior exemplar desta espécie mede cerca de um metro e meio de altura e mais de quatro metros de diâmetro;

 

• Devido à forte presença desta planta na Namíbia, os jogadores da Seleção Namibiana de Rugby são apelidados de welwitschias.

2 Comentários

  1. Maria Júlia Monteiro Jaleco
    6 Abril, 2019 às 17:50 — Responder

    Eu adoro as Welwitschias e vi muitas, no deserto de Namibe. Tenho três observações a fazer:
    1.No nome científico a primeira palavra (que corresponde ao género) escreve-se com inicial maiúscula, assim como o nome da Família
    2.Tal como está redigido (muitas das suas sementes (as espermatófitas)), parece que espermatófitas são sementes – e não, trata-se da designação das plantas que produzem sementes.
    3. Nas figuras que se seguem ao texto principal aparecem baobás – está correcto mas em África chamam-se Imbondeiros ou Embondeiros…

  2. Ana Maria Olival
    4 Abril, 2023 às 18:42 — Responder

    No Deserto do Namibe, Sul de Angola,
    estive várias vezes perto desta planta,
    que seus enormes tentáculos, folhas,
    se moviam para cima e, procuravam
    tocar-nos, ao nos aproximar as folhas
    fechavam e formavam uma coroa. Em seu
    interior, corola, vi animais mortos, carcaças
    e exalava um cheiro nauseabundo. Eram as
    famosas vivas-mortas. Os nativos temiam
    A Welwitschia Mirabilis. Vi a mesma, em
    exposição em Luanda, cercada com enormes
    grades de ferro e guardadas por soldados.
    Não era permitido acercar nem falar alto. Isto
    no jardim de um cinema “Avis”. Era conhecida
    por ser carnívora. Eu estava lá.
    anaolival _ Abril 2023

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