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A consagração brasileira

Leya

 

Este é o Brasil real. Real dos reais, dos dólares, dos reis. Dos dois tipos de gente: políticos e cidadãos. País de governantes ladrões, enganadores e salafrários, gestores de um dos mais altos impostos do mundo. Não estão isentos aqueles que vivem das migalhas, que fazem o mesmo no seu dia a dia, furam uma fila aqui, outra ali, mesmo que em menor proporção, a intenção sempre é a mesma – ganhar no mole, levar vantagem.

 

País este que agora consagra sua cultura nefasta exibindo sua cara nas mídias mundiais, expondo um a um dos seus nobres canalhas, que nem mesmo se preocupam em tomar mais cuidado nas ações criminosas que cometem, quanto mesmo sentem vergonha ou constrangimento daquilo que fizeram. Permanecem de cabeça erguida e riem com deboche quando pegos. Eles têm certeza de que a lei está a seu favor. E estão certos, afinal, elas foram escritas por eles.

 

Aqui, criminoso condenado por assalto a mão armada pode prestar concurso público para polícia militar (portal G1, 30/01/2017). Aqui, presos podem sair da cadeia para tomarem posse de cargo de vereador (portal G1, 03/01/2017). Aqui, corruptos fazem as leis, são a lei. Leis tão boas que deixam brechas para que criminosos do colarinho branco mantenham seu padrão de vida, mesmo com seus bens bloqueados pela justiça.

 

Tudo muito estranho. Tanto as facilidades e benevolências concedidas pela “justiça”, como também o fato do povo endossar bandidos para ocupar cargos públicos.

 

Alguma coisa soa muito incoerente nesse quadro, algo injusto, discrepante. A impressão que este tipo de situação causa é que, para eles, uma condenação é apenas mais uma fase de um jogo, um risco calculado no seu plano de negócios. E que vale a pena. Já os criminosos amadores, aqueles que cometem delitos menores, só servem para dar volume e manter o funcionamento do sistema judicial – que, como todos sabem, é um negócio bem lucrativo. Afinal, um preso custa muito mais do que um aluno.

 

O considerado, até outro dia, homem mais rico do Brasil, o sétimo homem mais rico do mundo, consagra o Brasil como país dos ladrões, da impunidade, da malandragem. Ele é o retrato desta nação. Sua tranquilidade no saguão do aeroporto fala por si só. Depois, em solo brasileiro, fazendo check-in no presídio, aparecendo de cabelo raspado, camiseta, calça jeans e chinelo parecem compor uma vestimenta de férias – ou melhor, de uma pausa. Não vai ter aquela mordomia que está acostumado, mas isso é passageiro, temporário. Em breve, quem sabe um livro, um cargo executivo numa empreiteira, uma pasta política, uma aposentadoria farta.

 

Essa é a cara do país. Um país deitado em berço esplendido, enquanto uma rotina de interesses próprios acontece do outro lado do muro. Só isso. O resto funciona por que tem que funcionar. Aqui, debaixo da carne seca, definitivamente não é lugar para empreendedores produzirem bons produtos e serviços, pois devem se ocupar para manterem seus negócios dentro da maior legalidade possível, para que não sejam engolidos pelo leão faminto.

 

Enquanto a maioria da população reza e evoca divindades salvadoras, as leis continuam a serem escritas, e você não foi chamado para dar sua opinião.

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