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É oficial: o (incrível) pastel de nata está a virar tendência no mundo

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O pastel de nata é, indiscutivelmente, a iguaria portuguesa que mais estômagos conquista além-fronteiras. Tem estado omnipresente um pouco por todo o globo, concorrendo diretamente com os índices de popularidade do croissant e do petit gâteau.

 

Não é necessário retroceder muito tempo na história da gastronomia para constatar que, para provar este doce de creme de ovo — abraçado por massa folhada crocante —, era obrigatório visitar Portugal. No entanto, ao longo do tempo, este pitéu deixou as demarcações territoriais e emigrou para cafetarias e padarias de cidades como Manhattan (Nova Iorque), Singapura (República de Singapura), Auckland (Nova Zelândia), Londres (Inglaterra), Buenos Aires (Argentina), etc. — o mapa-mundo parece feito de pastel de nata.

 

O emancipado símbolo da cultura portuguesa nasceu no século XIX, para os lados de Belém (Lisboa). O segredo da sua confeção pertence aos monges do Mosteiro dos Jerónimos que, devido à extinção das ordens religiosas nacionais, foram obrigados a criar um modelo de negócio rentável. Consequentemente, abriram uma espécie de pastelaria, contígua à abadia, e o sucesso fez o resto. Pelas redondezas, ficaram rapidamente conhecidos por pastéis de Belém — epíteto que se mantém, nos dias que correm, na capital.

 

Graças à apropriação da receita por outras regiões do país, a nomenclatura mudou. Passaram a denominar-se pastéis de nata ou, simplesmente, natas. Ainda assim, a base da receita é a mesma: ovos (muitos, como a cor denuncia), leite, açúcar, manteiga e massa folhada. Comem-se polvilhados com canela, à mão e em duas ou três dentadas. Há quem defenda que, quando são acompanhados por uma chávena de café, o arquétipo da perfeição é atingido.

 

Pastel de nata — Imagem: Flickr

Em 2012, Álvaro Santos Pereira, ex-ministro da Economia, abriu o precedente para a expansão do pastel de nata, sugerindo que se apostasse no  franshising internacional. Inclusive, chegou a afirmar que Portugal falhava na exportação dos seus produtos nacionais. Atualmente, é fácil de apurar (basta uma pequena pesquisa cibernética) que o conselho acabou por ser seguido — e por mais pessoas do que imagina.

 

O sucesso do ex-líbris gastronómico português — que, neste momento, coleciona outros carimbos no seu passaporte — chega a transgredir as medidas convencionais da fama. Recentemente, teve direito a um episódio integral na Great British Bake Off, uma aclamada competição de culinária britânica. Foi alvo de rasgados elogios num artigo generoso da Bloomberg, empresa americana responsável pela proliferação de notícias sobre marcas e negócios. Sendo que, além de outras tantas menções honrosas, chegou a integrar a lista dos melhores pratos do mundo, em 2017, ocupando o 16.º lugar do ranking mundial da CNN.

 

Em Portugal, o pastel de nata custa, em média, 1,10 euros. Nas pastelarias londrinas, pode chegar até às três libras (aproximadamente, 3,50 euros). Aliás, o impacto que este pequeno doce gera na economia britânica é bem visível. A cadeia alemã Lidl chegou a gabar-se de vender cerca de dois mil pastéis de nata por hora, nos supermercados espalhados pela Grã-Bretanha.

 

Ainda no contexto do franshising, a empresa Nata Pura, sediada em Vila Nova de Gaia (Portugal), ao adaptar o pastel português aos gostos locais —num modelo de negócio semelhante ao da Dunkin’ Donuts — popularizou-o ainda mais, ao redor do globo. Estimam-se que sejam vendidas mais de 500 mil natas por mês, mesmo que isso provoque algum descontentamento nos lusitanos que se mantêm fiéis à receita original.

 

Tendo em conta todos os fatores de crescimento supracitados, aliando-os ao sabor irresistível e singular da nata, a derradeira chave para o sucesso é alcançada. De pastel em pastel, o mundo tem enchido a barriga (e a carteira) de Portugal.

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