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Menino cria canal no YouTube para contar histórias dos heróis negros

Leya

 

Pedro Henrique Cortês encontrou a centelha de representatividade dentro de casa. Sua mãe sempre fez questão de que o lar fosse muito bem frequentado por heróis e heroínas negros, estivessem eles em livros ou em conversas descontraídas. Foi uma provocação dela que fez o paulistano de 14 anos se questionar o motivo de não conhecer os heróis de seu próprio país. Após ter assistido à peça “O Topo da Montanha”, encenada por Taís Araújo e Lázaro Ramos, Pedro ficou curioso sobre a história de Martin Luther King. Assim, pediu à sua mãe um presente: as biografias de Martin, de Nelson Mandela e de Malcolm X.

 

A mãe argumentou que só daria os livros de presente se Pedro se dispusesse a pesquisar e conhecer a histórias dos heróis e heroínas brasileiros. Pesquisando entre livros, internet e com a ajuda da família, o jovem percebeu a dificuldade em encontrar informações sobre os ídolos negros nacionais. Na escola onde estudava, tudo que ele ouvia era estereotipado.

 

– Falar rasamente de Zumbi, das danças, comidas e música, é desprezar tudo que esses homens e mulheres célebres fizeram – explicou em entrevista à Agência Brasil.

 

Pedro se considera muito tímido. A fim de se tornar mais desenvolto, criou o canal PHCortês no YouTube. Logo percebeu que o conhecimento acumulado em suas leituras e pesquisas precisava ser compartilhado. Começou, no simbólico 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, a série Heróis Brasileiros. Nela, aborda com sabedoria acima de sua idade, sem deixar a irreverência natural de um adolescente de sua idade, sobre fatos e anedotas de personagens negros importantes da história brasileira.

 

O primeiro a ser retratado foi Zumbi dos Palmares. No começo do vídeo, Pedro já avisa: para quem não tem orgulho de suas raízes brasileiras, é melhor fechar o vídeo, pois as histórias que ele conta bebem sem fim nas peripécias orgulhosas de seus protagonistas.

 

 

Seguiram-se então outros grandes nomes, como o advogado abolicionista Luiz Gama, o escritor Machado de Assis – um dos favoritos de Pedro.

 

– Um célebre escritor, aclamado no mundo. Negro, gago, epilético, pobre. Ele derrubou tantas barreiras para chegar onde chegou, foi genial! – afirma, com convicção. Pedro dedicou uma das gravações a João Cândido, líder almirante de umas das revoltas negras mais importantes, a da Chibata.

 

A heroína quilombola Dandara e a escritora Carolina de Jesus foram as primeiras mulheres sobre as quais Pedro falou, sendo Dandara também uma de suas grandes referências.

 

– Imagine, naquela época uma mulher deter práticas de guerrilha e ser de fato uma líder! Ela era tão líder quanto Zumbi.

 

O vídeo mais recentemente gravado foi sobre uma heroína contemporânea, “a mulher do fim do mundo”, como é conhecida a cantora Elza Soares. Se o bloco Ilú Obá de Min recentemente a homenageou, levando-a pelas ruas de São Paulo durante o Carnaval, Pedro também a relembra como uma musicista icônica e mulher muito à frente de seu tempo. De todos os tempos.

 

 

Ainda que não faltem matérias sobre o seu trabalho e que os comentários de seus vídeos sempre o encorajem a continuar, até mesmo sugerindo outros personagens, Pedro é bastante modesto em relação ao alcance do seu canal.

 

– Não sei se posso influenciar, mas pelo menos há uma reflexão sobre esse assunto que parece tabu em todos os núcleos, tanto escolar, como familiar e social.

 

Hoje o seu canal conta com mais de 10 mil inscritos, e são muitos os educadores que prezam e dizem utilizar o seu material dentro das salas de aula.

 

Um herói que figura em um panteão, o historiador Franz Fanon – autor do livro Pele Negra, Máscaras Brancas, escreveu que “a consciência é uma atividade transcendente”.

 

Os olhos de Pedro refletem uma história que corre violenta e brava em suas veias – e na veia de todos brasileiros, conscientizando o ato de se importar, de reconhecer nossas raízes. Sem perceber, e talvez fique mais tímido se ouvir o elogio, Pedro também se torna parte dessa constelação de heróis, simplesmente por jorrar uma rara luz sobre eles.

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