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O sistema de ensino brasileiro e o mercado de trabalho

Leya

 

Percebe-se com nitidez que o objetivo principal desse sistema educacional ainda é o de formar pessoas para atuarem naquele mercado de trabalho pautado no modelo industrial, pessoas que cumpram ordens, que façam o que lhes mandam. Basta observarmos o modelo das escolas, elas têm muros altos, grades e portões trancados; salas de aula monocromáticas e fechadas (ambiente impessoal); as carteiras são posicionadas em linha, na mesma direção (perspectiva única); as regras de comportamento e obediência são severas (é preciso pedir permissão para fazer necessidades fisiológicas); sirenes determinam horário de entrada, do lanche e de saída; há avaliações comparativas de produção (notas); a hierarquia é rígida. Quem não se encaixa, é marginalizado, está fora do jogo.

 

Embora a atividade industrial ainda seja relevante no país, ela está cada vez menos dependente da mão de obra operária. Este tipo de tarefa está se automatizando. Poucos são os setores dependentes, e a tendência é diminuir. Portanto, aquele sistema educacional criado para atender esse tipo de demanda, será ínfimo. Ainda, empresas de vanguarda também não absorverão esse contingente, obviamente por eles não se adequarem aos seus ideais e necessidades. Então, em que mercado de trabalho esses aprendizes se encaixarão?

 

Neste cenário de transformação, outra economia sobrepuja, o das empresas individuais e de pequeno e médio porte. Juntas elas são responsáveis pela ocupação de 70% dos postos de trabalho formais do país. Isto indica que as pessoas querem ser donas de seu próprio nariz, terem seu próprio negócio, serem autores e responsáveis por suas próprias ideias e projetos.

 

Obviamente nossas escolas não estão percebendo essa situação, e pior que isso, não há indício algum de propostas neste sentido. Nem do governo federal, estadual ou municipal. O Sebrae desenvolveu um programa chamado JEPP – Jovem Empreendedor Primeiros Passos, que visa incentivar a participação dos jovens no meio empreendedor, é uma espécie de parceria com escolas municipais do ensino fundamental que promove atividades relacionadas em horários extracurricular. Mas estes formatos ainda carregam na essência a predominância do ensino verticalizado, das cartilhas prontas, das fórmulas predefinidas.

 

Hoje, o que se discute nos avançados estudos sobre aprendizado é a utilização de métodos colaborativos e horizontalizados, onde o aluno é agente e formador de seu próprio conhecimento, utilizando todos recursos à sua volta, compartilhando ideias. Alguns modelos estão em curso e apresentam excelentes resultados. Há um real envolvimento do jovem no processo e seu desenvolvimento é evidente. E, nestes casos, a função dos educadores é de atuarem como tutores, facilitadores desta apropriação.

 

Do jeito que está, a conta não fecha. Essa incoerência pode e deve ser corrigida, basta terem coragem e abrir a mente. Cidadãos dignos, boas ideias e soluções eficazes surgem da dúvida, da crítica e não da submissão, da obediência incondicional.

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