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Um sonho chamado Portugal

Tenho 30 anos. Dois Filhos. Casado. Jurista, gestor e estudante. Nasci em 1985. Mais de uma década depois do 25 de Abril de 1974.

 

Hoje, 41 anos depois desse momento histórico da vida política portuguesa, continuamos amarrados ao passado, com um Estado e um enredo político ancorado em regras, princípios, testemunhos e argumentos de um tempo que já não é o nosso. Muito menos o meu.

 

Não discuto a relevância desse momento libertador, mas passou. É história. E história que não vivi, como tantos outros episódios da extraordinária História de Portugal.

 

Contudo, um episódio histórico que, apesar de antigo, continua a ser vivido como se fosse actual, através da continuada e quase perpétua permanência dos actores políticos e personalidades da vida pública portuguesa que se mantém activos e com responsabilidade directas ou indirectas desde de então. Faz-me lembrar o filme para crianças À Noite no Museu, que vi no outro dia com os meus filhos, onde algumas das personagens da História mundial ganhavam vida nos dias de hoje.

 

Não faz sentido, nem merecemos, enquanto democracia consolidada, continuarmos a viver neste tipo de “monarquia absoluta” dos partidos políticos e dos seus pares. Sempre iguais e sempre os mesmos.

 

Devido a esta permanência abusiva na estrutura institucional do Estado, assistimos a um descrédito na política, nos políticos e no próprio Estado, frustrando o dever de servir a causa pública de forma isenta, transparente e construtiva.

 

Servir a Pátria deixou de ser a actividade mais nobre e de maior prestígio como foi noutros tempos.

 

Sem um Estado e uma classe política sã, despojada de interesses e negócios e focada em servir, altruisticamente, a Pátria e os seus concidadãos por dever, não poderemos evoluir, crescer e reassumir o nosso, sempre relevante, papel no Mundo.

 

Este mesmo descrédito também existe no sector empresarial e financeiro, especialmente pela promiscuidade criada entre estes e os agentes do Estado, porque, no fundo, são sempre os mesmos, trocando de lado de ano para ano. Culminando nos inúmeros abusos existentes e na criação de uma sociedade consumista, irreal, onde todos podem ter tudo mesmo não tendo capacidade para tal; e onde o ter é a razão de ser e objectivo de vida, esquecendo o importante: o valor das pessoas, das famílias, do trabalho, das coisas e o saber-fazer.

 

Para além de tudo isto, vivemos sem bússola, sem destino e sem aquilo que deveria ser uma “Missão Estratégica Nacional” clara, objectiva, que nos guie e defina. Uma missão com a qual todos nos revejamos e que saibamos que Nação, Pátria e País somos e queremos ser. Uma auto-definição essencial em qualquer organização de pessoas e instituições – como é o próprio Estado – especialmente, num mundo global, sem fronteiras e, violentamente, competitivo e concorrencial como o nosso.

 

Por tudo isto, digo que hoje somos um Estado velho, em processo de decomposição, e um Estado vazio de estratégia, de ideias, de ideais, de líderes genuínos, de princípios, de valores, de causas, de políticos isentos e altruístas e de pessoas (somos cada vez menos pessoas).

 

Com a actual conjuntura política, social e económica, não tenho dúvidas da necessidade de mudança e de renovação. Precisamos que as novas gerações se assumam, com coragem, e percebam o dever e a responsabilidade que têm nesta mudança e na necessidade de servir em prol do bem comum, do desenvolvimento real e de um futuro melhor.

 

E não nos venham com o preconceito da idade ou da inexperiência. Se assim for, importará lembrar os inúmeros exemplos históricos de “jovens” que ousaram e mudaram o mundo, construíram nações e incentivaram os seus povos com cerca de 30 ou 40 anos, como: i) Jesus que morre aos 33 anos deixando um testemunho e um legado à Humanidade que ainda hoje é incomensurável, ii) D. Afonso Henriques, Rei de Portugal com 34 anos, após vários desafios como a batalha de São Mamede em 1128, com 19 anos; iii) Infante D. Henrique, que engendra a primeira iniciativa dos “Descobrimentos Portugueses” com 20 anos; iv) Vasco da Gama que foi o Capitão-Mor na expedição até à Índia com 28 anos – que resultou no Caminho Marítimo para Índia; v) Pedro Alvares Cabral que liderou a expedição para a descoberta do Brasil com 32 anos; vi) Fernando Pessoa que cria os heterónimos Álvaro Campos, Ricardo Reis e Aberto Caeiro com 26 anos, depois de ter ganho o prémio Rainha Vitória em Inglaterra com apenas 15 anos; vii) O Professor Adriano Moreira, Ministro do Ultramar com 39 anos; viii) General Ramalho Eanes que avança, sem mais, sem medo e sem obrigação para reorganizar Portugal a 25 de Novembro de 1975, com 39 anos; ix) Jaime Gama que foi ministro da Administração Interna e Ministro dos Negócios Estrangeiros com 31 e 33 anos, respectivamente; e; x) Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do Mundo da actualidade desde os 23 anos; entre tantas outras referências Portuguesas.

 

É por estas e outras razões que precisamos de rasgar, mudar e de acreditar em Portugal e nos portugueses. E sem medos, definir a “Nova Missão Estratégica Nacional” nesta era do globalismo, como nos tem lembrado tantas vezes o Senhor Professor Adriano Moreira.

 

Precisamos de sonhar, de ousar com liberdade e de nos deixarmos levar pelo sonho, que ainda hoje é, Portugal.

 

Basta querer.

 

Vamos a isso!

 

Leya

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