Portugal: Um país de sedentarismo
Portugal está a tornar-se, cada vez mais, num país sedentário. Segundo um estudo elaborado pela Comissão Europeia, o país está abaixo dos congéneres da zona europa nos níveis de atividade física diária.
A prática desportiva e uma alimentação equilibrada são dois poderosos aliados de uma vida saudável. Apesar das recomendações dos especialistas a lembrar a importância do exercício físico, o Eurobarómetro do Desporto e da Atividade Física, publicado pela Comissão Europeia, revela que a maioria dos portugueses admite que não pratica desporto. Antes da pandemia, Portugal estava mesmo entre os onze países mais sedentários do mundo, de acordo com o Relatório Anual do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física, da DGS, referentes a 2019.
Com a Covid-19, a situação tendeu a agravar-se. O Eurobarómetro do Desporto e da Atividade Física indica que 73% dos portugueses que foram entrevistados, de forma direta, entre abril e maio de 2022, assumem que nunca exercitam ou praticam desporto. Esta taxa representa Portugal como o pior país da União Europeia neste aspeto, que se encontra abaixo da média dos 27 estados membros, com 45%. Apenas 4% da população, pratica regularmente exercício físico contra 18% que se exercita com alguma regularidade e 5% que raramente o fazem. As mulheres (80%), os reformados (92%) e as pessoas com mais de 55 anos (91%) são os que mais se destacam de forma negativa. Porém, os mais novos não ficam tão atrás. Das pessoas inquiridas com idades entre os 15-24 anos, 53% não pratica desporto, o que indica que existe uma grande parte da população portuguesa mais jovem que não se exercita.
Para um país onde a população está a envelhecer cada vez mais, estes números são alarmantes. Por cada cem jovens em Portugal existem 182 idosos. No estudo elaborado pelo Eurobarómetro, a população mais idosa e que está reformada tem um elevado grau de sedentarismo e de não praticar qualquer esforço físico nas suas práticas diárias.
Outro elemento que é agravado devido à inatividade física é a economia. Mais de 980 milhões de euros foram gastos para os serviços de saúde, mais especificamente para tratar de doentes que sofrem de doenças relacionadas com o sedentarismo e a inatividade física. Um estudo elaborado pela Deloitte sobre a indústria fitness, aponta que são gastos 1569 milhões de euros por ano pela economia portuguesa para colmatar o absentismo ao trabalho que é originado por parte de doenças que são provocadas pelo sedentarismo e inatividade física.
Jovens desligam da prática desportiva
Os especialistas defendem que a melhor maneira de aumentar o índice de prática de exercício físico é a educação, no sentido em que pode proporcionar um maior conhecimento da prática e dos benefícios da atividade física. O primeiro contacto que uma pessoa tem com o desporto, muitas das vezes, é com Educação Física nas escolas. A disciplina pretende dar a conhecer aos alunos vários desportos que possam gostar, quais os seus benefícios e os malefícios de não praticarem.
Paulo Mota, professor de educação física do colégio Salesianos de Manique, em Lisboa, mostra-se preocupado com estes números, mas não se surpreende, pois considera que não existe uma política desportiva organizada de forma nacional. “Podemos perceber isso que em cada município tenta combater o problema do sedentarismo, mas não existe nenhuma política ou estratégia por parte do governo para alterar esta situação de saúde pública”, critica.
Paulo Mota considera que “se deveriam fomentar medidas que apoiassem o desporto escolar de forma real e efetiva”, mas acrescenta que “existem muitos jovens a praticarem atividades físicas e desportivas. Porém, ao longo do tempo, vão-se desapegando do desporto ou da prática de exercício físico”. As razões são diversas, mas para o professor de Educação Física “essa perda de interesse para o desporto acontece porque a ‘cultura do esforço’ está a começar a desaparecer, causando a perda de interesse na prática do desporto e aumentando os índices de sedentarismo e até de obesidade”.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que a obesidade infantil é a “nova pandemia do século XXI” e Portugal já está a ser afetado. Cerca de 30% dos jovens portugueses sofrem com esta doença. Esta ‘pandemia’ é provocada pelo sedentarismo infantil, evidenciada por Paulo Mota como o desaparecer da ‘cultura do esforço’.
Portugal distancia-se muito dos congéneres europeus, na prática do desporto, o que leva tanto a problemas de saúde pública quanto problemas financeiros. “O Governo deveria apoiar mais o Desporto Escolar, pois a maioria dos jovens começa a praticar algum desporto na escola”, defende Paulo Mota. Esta medida asseguraria, acredita, “uma nova mentalidade para a nova geração de portugueses.
O profissional em educação física alerta ainda que é necessário que o Governo implemente uma política nacional de desporto para que jovens e mais velhos consigam aderir mais à prática desportiva. “O desporto não pode ser visto como algo banal e somente uma questão privada de cada pessoa. O desporto e a prática de exercício físico têm de ser levados com seriedade perante os governantes de um país, pois torna-se uma questão de saúde pública e uma questão de fomento financeiro de uma nação”, conclui.
Por Diogo Fernandes e Manuel Schiappa, alunos da licenciatura em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa.
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